Revolta no forte Coligny
Em novembro de 1555, a expedição colonizadora oficial da França aportou na baía de Guanabara, com ambições de expandir o domínio territorial francês. Porém, poucos meses depois, no dia 14 de fevereiro de 1556, uma conspiração estremeceu os planos da Coroa. O objetivo do motim era assassinar o comandante da missão, Nicolas Durand de Villegagnon.
Desde sua chegada ao Rio de Janeiro, Villegagnon exigiu que os colonos trabalhassem arduamente na construção de uma fortaleza — o forte Coligny. As condições de trabalho geraram uma insatisfação generalizada entre os subalternos. Mas não foi só isso que revoltou os colonos: o vice-almirante da França proibiu os encontros sexuais entre seus homens e as nativas. A castidade só poderia ser rompida com o batizado das indígenas e selado pelo casamento sob os votos da Igreja Católica. A sentença para o descumprimento da norma: a forca.
Além dos recém-chegados à baía de Guanabara, cerca de vinte outros gauleses — a maior parte náufragos de embarcações anteriores — viviam há tempos entre os tupinambás. Os chamados truchments serviam de mediadores entre seus compatriotas e os povos nativos. Franceses de nascimento, esses homens permaneciam como súditos da Coroa e, por desdobramento, estavam sob autoridade do vice-almirante da França. Àquela altura, entretanto, eram mais afeitos aos hábitos adquiridos no novo continente do que à rigidez militar francesa e aos dogmas do catolicismo. Subitamente ameaçados de morte caso não convertessem suas esposas, batizassem seus filhos, abandonassem a poligamia e oficializassem a união matrimonial com a bênção da Igreja, os truchments protagonizaram um levante contra Villegagnon.
Decidiram por um ataque surpresa e contavam com apoio de um membro da guarda pessoal do comandante — o que seria fundamental para execução do atentado. Porém, esse mudou de ideia, e a trama foi sufocada. Ao final, apenas um dos envolvidos foi enforcado e outro preso. A maior parte dos truchments conseguiu escapar de volta às suas tabas e não foram perseguidos. Villegagnon perdoou os demais rebelados, pois, segundo ele, “se quisesse castigar com suplício a todos que estavam envolvidos na intentona, não sobrariam bastantes para terminar a obra que empreendemos”.
Este texto foi elaborado pelo pesquisador Davi Aroeira Kacowicz do Projeto República (UFMG).