As memórias dos diversos nomes, movimentos e obras ligados às artes visuais que ocorreram no Rio de Janeiro são ligados tanto ao papel das instituições oficiais e privadas que alimentaram a formação e circulação de artistas, quanto ao que aconteceu e acontece nas suas ruas. Desde a sua organização ao redor de iniciativas da corte de Dom João VI até os grandes nomes internacionais e as práticas contemporâneas, o lugar da arte na cidade teve papel decisivo para o carioca. Mesmo que seja geralmente visto como um segmento ligado às elites, são diversos os caminhos que a criação estética se espraia em nossa história.

Curadoria: Frederico Coelho

Com o advento da República em 1889, as artes visuais no Rio de Janeiro passam a fazer parte de um novo momento histórico, em que a cultura visual da cidade se adapta às novas demandas urbanas da nascente metrópole tropical. Apesar da continuidade nos padrões oficiais do ensino acadêmico, a Escola Nacional de Belas Artes se torna espaço de intensas disputas estéticas e políticas. Modernos, classicistas, positivistas e “futuristas” são os novos personagens que formam um campo de trabalho em expansão. Ao lado das primeiras galerias e da formação ainda incipiente de um mercado de arte, as revistas ilustradas e a evolução de artistas gráficos ampliam o acesso da população à produção de imagens no interior de uma cultura de massas. O advento do chamado modernismo incorpora uma série de novas informações oriundas das vanguardas europeias e transforma definitivamente o papel da arte e de artistas na capital federal republicana.

Com a ascensão de Getúlio Vargas e do Estado Novo, a busca pela produção de simbologias nacionais através da imagem reafirmou o papel do Rio de Janeiro como capital cultural e visual do país. Dentre o surgimento de jovens talentos e a consolidação das conquistas advindas do modernismo dos anos 1920, o ensino e a crítica das artes visuais na cidade retomam debates acalorados da virada do século, na tentativa de uma maior abertura das instituições para um novo pensamento de arte e de Brasil. Novos grupos, como o Núcleo Bernardelli, surgem por fora do academicismo ainda presente. Cândido Portinari se destaca como o maior artista brasileiro, porém, nomes como Guignard e Santa Rosa trabalham com afinco no dia a dia da arte carioca. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, artistas de outros países se instalam em um espaço urbano que atravessa modificações profundas em seu desenho e edificações. Com um governo ditatorial, a produção de obras de grande vulto e a eleição de artistas como ícones nacionais dão o tom de um período conturbado para a cidade, o país e o mundo.

Em sua última década como capital do país, o Rio de Janeiro adentra os anos de 1950 sob o signo cosmopolita do desenvolvimento técnico e da renovação de ideias. Na imprensa, na arquitetura, na música e na literatura, essas transformações consolidam a visão de um Brasil cuja modernidade estética contrastava com a persistente precariedade social e econômica. As artes visuais seguem essa visão ao incorporar, de forma tardia, a perspectiva construtiva das vanguardas europeias ligadas ao abstracionismo geométrico, aos movimentos coletivos e manifestos e a um aprofundamento do debate crítico-teórico. A construção do Museu de Arte Moderna consolida o projeto modernista e se torna um marco na arquitetura carioca. Ao mesmo tempo, a exclusão social que se agrava na cidade abre fissuras na pureza estética dessa geração e apresenta tensões políticas que se agravariam na década seguinte.

Mesmo perdendo em 1960 sua condição de capital do país, o Rio de Janeiro seguiu como um dos epicentros criativos nacionais. O crescimento das tensões políticas durante o período da guerra fria internacional transformou as artes em um espaço de reflexão e engajamento. A politização que ocorria principalmente no âmbito do cinema, da música popular e do teatro, também atinge as artes visuais. Mostras e movimentos seguem ocorrendo em uma cidade com cada vez mais galerias e novos artistas. Em meio ao clima de autoritarismo que cresce ao longo dos anos, a pintura pop norte-americana, as novas técnicas ligadas ao design gráfico ou as primeiras performances públicas conviviam com uma busca por fazer da arte um meio mais popular em uma cidade cuja miséria econômica e a violência urbana cresciam cada vez mais.

O impacto do período mais agudo da ditadura civil-militar foi grande no meio das artes visuais no Brasil. Auto exílios (Rubens Gerchman, Lygia Clark, Hélio Oiticica e Antônio Dias, por exemplo, se estabelecem boa parte do período fora do país) e a censura desarticularam os movimentos coletivos que marcaram a década de 1950. Isso não impediu, porém, que no Rio de Janeiro artistas e críticos buscassem alternativas para seguir a relação da arte com o público. Ao mesmo tempo, uma nova geração de artistas envolvidos com outras linguagens – como o vídeo – e abordagens mais experimentais (instalações, performances e intervenções públicas) deram o tom de um período marcado pela tragédia do incêndio do Museu de Arte Moderna.

A partir dos anos 1980, as artes visuais passaram a conviver com as diversas práticas que surgiram nas décadas anteriores e que ampliaram para diferentes técnicas, meios e escalas a sua definição tradicional. Cada vez mais o termo “arte contemporânea” foi utilizado para definir um campo tão variado de propostas e trabalhos. Com a ampliação mundial dos mercados, a partir da globalização do fim de século e com a velocidade das redes e da cultura digital no século XXI, a arte contemporânea ganhou uma nova dinâmica internacional e novas instituições que dialogam com tais transformações.
No Brasil em particular, a redemocratização e a estabilização da moeda ampliaram essa virada contemporânea, retirando dos artistas locais o selo subdesenvolvido ou periférico e os inserindo em novas dinâmicas estéticas, em diálogo permanente com o mundo. No Rio de Janeiro, cresceram os números de ateliês, exposições, subversões e instituições que transformaram a cidade em uma das referências criativas do novo milênio.

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