Agitação do morro do Nheco
Em 1831, ano marcado pelo fim do Primeiro Reinado no Brasil, o Rio de Janeiro foi palco de agitações de várias naturezas. Pelas ruas da Corte, protestos de aspirações republicanas conviviam com manifestações de apoio à monarquia. Em abril, Dom Pedro havia abdicado do trono em decorrência de uma crise política, legando o poder ao filho, ainda criança.
Enquanto a Regência Trina governava provisoriamente, a disputa de poderes se dava, principalmente, entre dois grupos. Os chamados liberais moderados tinham maioria na Câmara dos Deputados. Já os liberais exaltados, que haviam forçado a abdicação junto aos primeiros, gozavam de pouca representação política, motivo de conflito com os antigos aliados. Para além desses grupos que ocupavam o ambiente institucional da política, havia uma crescente adesão do povo a cada um deles.
Desde o início do ano, manifestações de civis e de militares transformavam a rua em ambiente de disputa política. O campo da Aclamação – atual campo de Santana – foi palco de vários desses protestos contra a Regência, quando brasileiros brancos, escravizados e tropas militares se misturavam, reivindicando a representação política que lhes convinha.
Uma das agitações que tomaram as ruas do período ocorreu no fim da noite de 25 de setembro. Um grupo de mais de 30 amotinados desceu do morro do Nheco (hoje, Santa Teresa) e se dirigiu à Cidade Nova, na região central da cidade. Formado por cativos e libertos, o bando assaltou a casa de um comandante da Guarda Municipal e se muniu de armas.
No caminho até o campo da Honra, pararam diante da casa do major exaltado Miguel de Frias e Vasconcellos — redator do jornal A Voz da Liberdade e responsável por receber a carta abdicatória do Imperador — saudando-o. Ao chegarem ao campo, os amotinados gritavam vivas à Assembleia Constituinte e à República, quando foram atacados por guardas municipais. O grupo se dispersou logo depois.
Este texto foi elaborado pela pesquisadora Helena Gomes do Projeto República (UFMG)