A 1ª Conferência Emancipadora ocorreu em 1880, no Teatro São Luís, e terminou com a libertação de um escravizado. A escolha do espaço foi estratégica. Após as reformas introduzidas pelo Gabinete Rio Branco, o teatro era ponto privilegiado na nova rotina da cidade. Suas óperas e vaudevilles, apresentações de orquestras e música de câmara atraíam aristocratas e populares.
A ideia surgiu quando os ativistas negros André Rebouças, José do Patrocínio e Vicente Ferreira de Sousa se reuniram com o objetivo de convencer a opinião pública da importância de dar fim ao sistema escravista. As conferências poderiam ocorrer ainda nos teatros Lírico, Recreio, Dramático ou Polytheama.
Na porta, moças enfeitadas com fitas verde-amarela arrecadavam as doações para compra das alforrias. No palco, oradores selecionados entre “homens de grande prestígio”, como os definiu Patrocínio, denunciavam os limites da Lei do Ventre Livre, os maus tratos e exigiam abolição imediata da escravidão, sem indenização.
A partir de setembro, foi inserido um número musical antes da entrega das cartas emancipatórias. E o evento passou a ser conhecido como Conferência-Concerto. O gerente do Banco do Brasil e comerciante João Clapp juntou-se ao trio, e dele vinham as boas-vindas à audiência. Diferentes camadas sociais ocupavam as galerias para acompanhar essa mistura de apresentação artística e comício político.
Em 1883, enquanto 115 escravizados eram emancipados, o público lançou sobre o palco flores e mais flores. A partir de então, a camélia tornou-se símbolo do abolicionismo. E o teatro se abriu como um espaço não institucional para o debate público sobre a escravidão e propaganda antiescravista. As Conferências Abolicionistas foram corriqueiras até a derrubada dos liberais, em 1885, e a ascensão do escravista Barão de Cotegipe à presidência do Conselho de Ministros.
Este texto foi elaborado pela pesquisadora Marcela Telles Elian de Lima do Projeto República (UFMG).