Distúrbios no Teatro Constitucional Fluminense

O público do Teatro Constitucional Fluminense (atual Teatro João Caetano, na praça Tiradentes) assistia à encenação do drama O estatutário, em 28 de setembro de 1831, quando começou uma briga do lado de fora. De um lado, estava o tenente brasileiro Antônio Caetano, do outro, o oficial português Paiva, do Estado-Maior do Exército. O teatro era ponto de encontro dos liberais exaltados, e o conflito entre Caetano e Paiva tomou proporções inesperadas.

Largo da Constituição, em 1834 por Hubert de La Michellerie. Fundação Biblioteca Nacional

Chamado para impor a ordem, o juiz de paz Saturnino Oliveira mandou prender ambos. Em meio à confusão, Paiva desapareceu, e Saturnino foi acusado de favorecer o português. Caetano se recusou a obedecer a ordem de prisão e foi conduzido pelos liberais exaltados para dentro do teatro. O prédio foi cercado pela Guarda Municipal, que, segundo os liberais, seria de maioria portuguesa. Após troca de tiros, a multidão se dispersou. Parte dos liberais, civis e oficiais se dirigiu ao 5º Batalhão de Caçadores, na rua dos Barbonos, em busca de apoio.

Os guardas cercaram o quartel, prenderam alguns rebeldes e seguiram patrulhando as ruas até a madrugada do dia 29 de setembro, quando os ânimos se acalmaram. Para os moderados, os distúrbios seriam consequência da anarquia disseminada por exaltados. Esses, por sua vez, tomaram as revoltas como expressão da liberdade na luta contra o despotismo. Os lusitanos eram considerados colonialistas, absolutistas e teriam ficado com a melhor fatia no mercado de trabalho.

Divulgação dos distúrbios no teatro por jornal moderado. A aurora fluminense, Rio de Janeiro, 03 de outubro de 1831. n. 00538. Hemeroteca da Biblioteca Nacional.

Mas o distúrbio não foi um ponto fora da curva. Entre 1831 e 1833, oito levantes ocorreram no Rio de Janeiro. Eram o modo informal de exercício da cidadania, construída de baixo para cima, com a participação de diferentes camadas sociais em espaços públicos não institucionais.

Este texto foi elaborado pela pesquisadora Marcela Telles Elian de Lima do Projeto República (UFMG).

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