A segunda colina: Morro de Santo Antônio
O Morro de Santo Antônio – na verdade, o que resta dele – é onde se localiza o Convento e as igrejas dos franciscanos. Até o século XIX, seus limites alcançavam as ruas do Lavradio, da Carioca, Senador Dantas e Evaristo da Veiga (antiga rua dos Barbonos).
A instalação da ordem de São Francisco na colina se deu no início do século XVII, depois que o morro – à época chamado Outeiro do Carmo – foi recusado pela ordem de Nossa Senhora do Carmo. Os carmelitas preferiram se instalar em região próxima ao mar, ocupando a antiga ermida de Nossa Senhora do Ó – lar inicial dos beneditinos no Rio –, na atual rua Primeiro de Março. Em 1607 o governador da capitania, Martim de Sá, fez a doação das terras da colina desocupada aos franciscanos, que em 1608 colocaram a pedra fundamental de seu convento. Em 1615, os frades se instalaram definitivamente no monte, que passava a se chamar Morro de Santo Antônio.
A fim de tornar o local mais salubre, os frades solicitaram que fosse aberta uma vala para drenar as águas da pantanosa lagoa de Santo Antônio. A lagoa ficava onde hoje passam a Avenida Chile e a Avenida Rio Branco. Foi essa vala, aberta em 1641, que acabou por definir a fronteira da cidade, e o caminho passou a ser conhecido como Rua da Vala – hoje rua Uruguaiana. Para ligar o morro ao porto, também foi feita a abertura de uma via que, partindo da Rua da Misericórdia até a Lagoa de Santo Antônio, deu origem à atual Rua São José.
Em 1633, a capela da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, instituída no Rio desde 1619, também foi erguida no topo da colina. Essa capela existe até hoje, mas a Igreja da Ordem Terceira mudou-se para o terreno ao lado do convento – doado pelos frades franciscanos na década de 1650 – e, atualmente, é um dos templos católicos mais ricamente ornamentados do Brasil.
Em 1718, para solucionar os problemas de abastecimento hídrico da cidade – existentes desde o início da colonização e agravados pelo aumento do número de habitantes – foram instalados alguns canos na rua dos Barbonos, a fim de atender às demandas da população por água. A ordem partiu do então governador da capitania, Antônio de Brito Freire de Meneses.
Aires Saldanha, que governou a capitania de 1719 a 1725, esticou os encanamentos até o Campo de Santo Antônio – atual Largo da Carioca – e construiu o antigo Aqueduto da Carioca. Em 1744, o governador Gomes Freire mandou construir um novo aqueduto, visto que a estrutura do anterior se deteriorou com o tempo. Inaugurado em 1750, o novo aqueduto levava a água até um chafariz de mármore com 16 bicas de bronze, no Campo de Santo Antônio.
Ali, Gomes Freire mandou construir um posto de guarda para controlar a circulação em torno do chafariz, dando origem à Rua da Guarda Velha – hoje Treze de Maio. Em 1834, Grandjean de Montigny projetou um novo chafariz no mesmo lugar, com maior número de bicas, para atender o aumento da demanda por água na cidade. O chafariz de Montigny foi demolido em 1925.
Referências:
BARROS, Paulo Cezar. As grandes intervenções na área central do Rio de Janeiro: a geografia histórica do morro de Santo Antônio sob a ótica dos projetos urbanísticos. Revista geo-paisagem (online). Ano 13, nº 25, Janeiro/Junho de 2014.
BRASILIANA Fotográfica. Série “O Rio de Janeiro desaparecido” VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruz. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=13719
MACEDO, Joaquim Manuel. Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro. 4ª ed. Livraria Garnier, 1991.