As ladeiras do Morro do Castelo

Se o Rio se ergueu como uma típica cidade portuguesa – com as principais instituições políticas, administrativas, de defesa e religiosas no topo do morro – foi aos pés do Morro do Castelo que surgiu a vida cotidiana, com um comércio incipiente e algumas casas. E isso foi possível graças à abertura de uma ladeira, aberta quase ao mesmo tempo que o núcleo da cidade: a Ladeira da Misericórdia. 

Largo e ladeira da Misericórdia, Augusto Malta, 1922. A torre da igreja dos jesuítas no alto. (Divisão de Iconografia/Fundação Biblioteca Nacional)

No início da formação urbana do Rio de Janeiro, a Ladeira da Misericórdia foi a única via de acesso ao morro do Castelo, que, em suas dimensões, chegava até as atuais ruas São José, Santa Luzia e México e ao Largo da Misericórdia. A partir da expansão urbana e da descida em direção à várzea, outros dois acessos foram abertos: as ladeiras do Carmo e do Seminário.

Os limites do Morro do Castelo, caso ele ainda existisse. Google Maps.

A da Misericórdia foi a única das três ladeiras que teve um trecho preservado após a demolição do Morro do Castelo, concluída em 1922. Esse pequeno trecho de 40 metros resistiu ao tempo e preservou seu calçamento, feito em pé de moleque – pedras de tamanhos irregulares –  por escravizados. Atualmente, a Ladeira da Misericórdia ocupa um pequeno espaço ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso (uma das mais antigas da cidade) e do prédio do hospital da Santa Casa da Misericórdia. Em 2017, o trecho foi tombado pelo IPHAN por ser um dos mais importantes vestígios do surgimento da cidade.

Ladeira do Seminário em 1904. Foto de João Martins Torres. Acervo: Instituto Moreira Salles

As ladeiras do Carmo e do Seminário não foram preservadas. A do Seminário teve outros nomes: Ladeira do Poço do Porteiro, da Mãe do Bispo e da Ajuda, e descia em direção às atuais Cinelândia e Avenida Rio Branco. A Ladeira do Carmo (também do Cotovelo ou do Colégio) ia em direção ao topo do morro, no Colégio dos Jesuítas. As instalações do Colégio foram utilizadas para outras funções após a expulsão dos Jesuítas, em 1759. Foi Hospital Militar (anos 1760) e, depois, Observatório Astronômico (1846), que incluía um posto de sinais para comunicação com as fortalezas da Baía de Guanabara. Em 1922 o prédio do Colégio veio abaixo junto com o morro.

Ladeira do Carmo ou do Colégio, Augusto Malta, 1922. As igrejas São José, em primeiro plano, e a dos jesuítas ao fim da ladeira. (Divisão de Iconografia/Fundação Biblioteca Nacional)

Referências:

BEZERRA, Rafael Z., LENZI, Maria I., JOÃO, Cristiane R. V. (orgs.) Tão importante, tão esquecido: bairro da Misericórdia. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2016

LENZI, Maria I. R. O antigo bairro da Misericórdia. In FERNANDES, Neusa et alii. Cantos e encantos do Rio. 1ª ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2022.

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