A quarta colina: Nossa Senhora da Conceição
O Morro da Conceição completa, com o Castelo, Santo Antônio e São Bento, o território inicial em que a cidade se delineou durante os três primeiros séculos. Até então chamado Morro do Padre Salsa, foi a partir da década de 1630 – com a construção da capela em homenagem à Nossa Senhora da Conceição – que o topo do monte passou a ser ocupado por instituições religiosas e, posteriormente, militares. Após a construção da capela, a colina passa a se chamar Morro da Conceição.
A ermida foi ocupada pelos capuchinhos franceses por volta de 1667, e após grande reforma, em 1702 se tornou o Palácio Episcopal – residência oficial dos bispos da diocese da cidade. Mas a posição estratégica do Morro da Conceição – cujo topo permitia uma ampla visão da Baía de Guanabara – o tornou alvo das incursões francesas de 1710 e 1711.
Foi depois dessas invasões que a Coroa portuguesa optou por fortificar o morro, incumbindo o Brigadeiro João Massé de projetar um novo sistema defensivo para a cidade. Assim, em 1713, foi inaugurada a Fortaleza da Conceição, erguida nos fundos do Palácio Episcopal. Junto às fortalezas de Santa Cruz da Barra (em Niterói) e São João (no bairro da Urca), a Fortaleza da Conceição formava o complexo defensivo da entrada da baía.
Alvo de muitas reclamações por parte dos bispos residentes no Palácio Episcopal, por conta do barulho e da violência dos tiros de canhão – que abalavam as paredes do palácio, em 1718 a fortaleza parou de efetuar disparos e, em 1765, foi transformada em “Casa de Armas” – para armazenar os armamentos das tropas coloniais.
Em 1733 foi construída a prisão do Aljube – utilizada para a reclusão de eclesiásticos – e alguns anos depois, no sopé do morro, a Igreja de São Francisco da Prainha (1740), da ordem dos franciscanos, foi erguida. A igreja recebeu esse nome por estar nos limites da antiga Prainha, parte da enseada do Valongo que desapareceu, após sucessivos aterros. Aos pés do morro está localizada, também, a Pedra do Sal, importante reduto da população negra e dos trabalhadores do porto.
Com o passar dos anos, as intervenções urbanas modificaram gradativamente as feições da região. Mas os ares de um Rio de Janeiro já quase completamente desaparecido ainda estão preservados no Morro da Conceição, em seu casario centenário que remonta ao período colonial e em suas ruas e ladeiras – algumas delas abertas ainda no século XVIII, como a rua da Pedreira (1713), atual rua da Conceição; a rua do Aljube (1733), atual rua do Acre; e a rua do Valongo (1760), atual Camerino.
Referências:
CARDOZO, Kleber Marinho. Habitação popular e preservação do patrimônio na reabilitação do centro do Rio de Janeiro – o caso do edifício na rua Senador Pompeu 34. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura,. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009.
MARENGA, Renata Costa e SILVA, Luiz Felipe Coutinho Ferreira. A influência das fortificações militares na expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro sob a ótica da cartografia histórica. Revista Brasileira de Cartografia, Rio de Janeiro, N0 67/4, p. 851-866, Jul/Ago/2015.
SCHLEE, Mônica Bahia. Cenografia urbana como indicador de qualidade ambiental na cidade do Rio de Janeiro. Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 1999.