Ataque à fortificação do morro Cara de Cão

Ao final de março de 1565, padre Anchieta, que acompanhava a missão colonizadora no Rio de Janeiro, se dirigia à Bahia para relatar os resultados até então obtidos pelos portugueses na Guanabara. Um mês antes, uma praia localizada entre o Pão de Açúcar e o morro Cara de Cão — onde hoje se encontra a Fortaleza de São João, na Urca —, havia sido escolhida por Estácio de Sá para a construção de seu forte. Ali, os tupiniquins e maracajás, aliados dos portugueses, ergueram rapidamente uma vila. O padre anotou que, no dia de sua partida, o terreno português já contava com muitas roças de alimentos e uma cerca construída junto a um baluarte, para a proteção da praia. 

José de Anchieta: padre jesuíta e apóstolo do Brasil. Livraria de J. G. de Azevedo. Custódia: Biblioteca Nacional. Padre Anchieta, discípulo do jesuíta Manuel da Nóbrega, foi por ele incumbido de acompanhar a missão colonizadora de Estácio de Sá na Guanabara.

Durante todo aquele mês, sucessivos combates aconteceram entre os portugueses e tupinambás. Em julho, diante da ameaça de deserção pelos seus companheiros, temerosos pela frequente ameaça de carestia, Estácio de Sá iniciou a distribuição de sesmarias, mesmo que o território total da baía de Guanabara estivesse ainda longe de suas mãos.  

Os tupinambás, acuados pelos soldados portugueses, que cada vez mais se arriscavam para dentro das florestas, receberam reforços de outras tabas e franceses, que habitavam a região de Cabo Frio. Assim, com mais de 160 canoas e três naus francesas, uma ofensiva indígena se dirigiu para o Cara de Cão, logo após a partida de padre Anchieta.  

Uma das naus foi logo atingida por um tiro de canhão português, dando início ao combate por mar e terra. De um lado, alguns portugueses protegiam a vila, que pegava fogo pelas flechas incendiárias que os tupinambás, avançando atrás de sua própria cerca, atiravam. Por mar, as duas outras naus francesas eram perseguidas pelas pequenas embarcações portuguesas, lideradas por Estácio de Sá.  

Parte dos guerreiros indígenas, enfim, conseguiu saltar em terra e atacar a praia portuguesa. Embora conseguissem causar baixas na tropa inimiga e destruir parte da vila, os tupinambás e seus aliados foram contidos pelos portugueses guardados por sua cerca. Ao falharem na tentativa de adentrar a fortificação portuguesa, os nativos recuaram para o continente. 

Considerada a primeira sede da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, a várzea junto ao morro Cara de Cão continuou a ser o núcleo do empreendimento português na Guanabara até 1567. 

Morro Cara de Cão, na Urca. Entre ele e o Pão de Açúcar, visto ao fundo, foi erguida a primeira vila portuguesa na baía de Guanabara, em 1565. Autor: Sérgio Valle Duarte, 1985. Wikimedia Commons.

Este texto foi elaborado pela pesquisadora Helena Gomes do Projeto República (UFMG). 

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