Guarda Negra

No final do século XIX, a Sociedade Francesa de Ginástica era ponto de encontro de boêmios no centro do Rio de Janeiro e foi o lugar escolhido por Silva Jardim para uma de suas conferências em defesa da república, pelo fim da monarquia. O debate não era novo, mas contava com uma outra variável: o fim da escravidão. A assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel levou alguns abolicionistas republicanos a mudarem de lado. O caso mais notório foi o de José do Patrocínio que passou a apoiar o governo imperial. Levou também muitos fazendeiros escravocratas, antes adeptos a D. Pedro II, à defesa da causa republicana, por se sentirem prejudicados pelo 13 de maio. Silva Jardim estava ciente da campanha monarquista para associar a república à escravidão, principalmente, após o apoio recebido por ex-proprietários de escravizados. O comício era a oportunidade de reforçar o que vinha repetindo por todo lado: a monarquia sempre defendeu o trabalho escravizado, ao contrário da república, cujo ideário tinha a liberdade como pilar.

Silva Jardim. Litogravura de Araújo Guerra. Fundação Biblioteca Nacional.

Em meio a uma audiência com maioria de pretos livres e recém-libertos, Silva Jardim afirmou: “a ideia da escravidão liga-se à ideia da monarquia. Ao passo que a ideia de república está ligada à de uma plena fraternidade. República e escravidão são, em princípio, como todo o mundo o sente, incompatíveis.”  Parte do auditório não se convenceu. O fim da escravidão aumentou a popularidade da família imperial, principalment, entre a população preta. Muitos se organizaram em torno da Guarda Negra, grupo de libertos reunidos pela “defesa da liberdade de todas as maneiras especialmente a representada por Isabel”. Alguns de seus membros ouviram o discurso de Silva Jardim naquela noite.

Jornal republicano dirigido por Rui Barbosa, Diário de notícias n. 01297, p. 01, 31 de dez. de 1888. Fundação Biblioteca Nacional – Hemeroteca da Biblioteca Nacional

Ao fim da conferência, o orador seguiu até o largo de São Francisco de Paula quando, segundo versões dos jornais republicanos, membros da Guarda Negra tentaram agredi-lo.  Na versão desses jornais, a Guarda não passava de navalhistas e capoeiras a serviço do Império. Compareceram ao comício para provocar e causar tumulto. José do Patrocínio saiu em defesa. A violência era resultado de uma “explosão de cólera”. Republicanos tinham direito de se manifestarem? Por que não os monarquistas contra a república? Ao final do conflito, de acordo com o chefe de polícia da Corte, a maioria dos feridos era ”quase todos homens de cor”.

Cidade do Rio dirigido por José do Patrocínio sai em defesa da Guarda Negra após os conflitos, n. 00294, 31 de dez. de 1888.
Hemeroteca da Biblioteca Nacional

Este texto foi elaborado pela pesquisadora Marcela Telles Elian de Lima

do Projeto República (UFMG).

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