Guarda Negra
No final do século XIX, a Sociedade Francesa de Ginástica era ponto de encontro de boêmios no centro do Rio de Janeiro e foi o lugar escolhido por Silva Jardim para uma de suas conferências em defesa da república, pelo fim da monarquia. O debate não era novo, mas contava com uma outra variável: o fim da escravidão. A assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel levou alguns abolicionistas republicanos a mudarem de lado. O caso mais notório foi o de José do Patrocínio que passou a apoiar o governo imperial. Levou também muitos fazendeiros escravocratas, antes adeptos a D. Pedro II, à defesa da causa republicana, por se sentirem prejudicados pelo 13 de maio. Silva Jardim estava ciente da campanha monarquista para associar a república à escravidão, principalmente, após o apoio recebido por ex-proprietários de escravizados. O comício era a oportunidade de reforçar o que vinha repetindo por todo lado: a monarquia sempre defendeu o trabalho escravizado, ao contrário da república, cujo ideário tinha a liberdade como pilar.
Em meio a uma audiência com maioria de pretos livres e recém-libertos, Silva Jardim afirmou: “a ideia da escravidão liga-se à ideia da monarquia. Ao passo que a ideia de república está ligada à de uma plena fraternidade. República e escravidão são, em princípio, como todo o mundo o sente, incompatíveis.” Parte do auditório não se convenceu. O fim da escravidão aumentou a popularidade da família imperial, principalment, entre a população preta. Muitos se organizaram em torno da Guarda Negra, grupo de libertos reunidos pela “defesa da liberdade de todas as maneiras especialmente a representada por Isabel”. Alguns de seus membros ouviram o discurso de Silva Jardim naquela noite.
Ao fim da conferência, o orador seguiu até o largo de São Francisco de Paula quando, segundo versões dos jornais republicanos, membros da Guarda Negra tentaram agredi-lo. Na versão desses jornais, a Guarda não passava de navalhistas e capoeiras a serviço do Império. Compareceram ao comício para provocar e causar tumulto. José do Patrocínio saiu em defesa. A violência era resultado de uma “explosão de cólera”. Republicanos tinham direito de se manifestarem? Por que não os monarquistas contra a república? Ao final do conflito, de acordo com o chefe de polícia da Corte, a maioria dos feridos era ”quase todos homens de cor”.
Este texto foi elaborado pela pesquisadora Marcela Telles Elian de Lima
do Projeto República (UFMG).
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