DONA NENÉM DO BAMBUZAL
O Batismo de Santo da Portela
As casas religiosas de matriz afro-brasileira desempenharam um papel crucial na formação da identidade cultural de Oswaldo Cruz, especialmente ao integrar as tradições do Candomblé e da Umbanda com o samba e a vida comunitária do bairro.
Esses espaços, que preservavam cantigas, danças, comidas e celebrações, eram liderados por mulheres respeitadas, conhecidas como matriarcas. Mais do que centros religiosos, essas casas funcionavam como locais de encontro, resistência cultural e preservação de saberes ancestrais.
Essas líderes tiveram um papel fundamental na valorização das raízes africanas e no fortalecimento da comunidade negra, promovendo pertencimento e apoio mútuo. Fé, música e cultura popular se entrelaçavam, criando um ambiente singular de celebração e solidariedade. Uma dessas figuras marcantes foi Dona Neném, que, junto com Vovó Martinha, liderava uma casa reconhecida pelo bambuzal que dominava o terreno.
A atuação de Dona Neném do Bambuzal e Vovó Martinha transcendeu o aspecto religioso. A casa era frequentada por figuras importantes da comunidade, como Paulo da Portela e outros integrantes da escola, que buscavam nelas conselhos, acolhimento e proteção espiritual.
Relatos dos mais antigos mencionam a prática comum de batizar blocos carnavalescos e grupos musicais na região, em rituais realizados para garantir proteção e bons caminhos às iniciativas.
Foi assim também com a Portela, que recebeu seu batismo de santo pelas mãos das mães de santo. Com seu axé, consagrou a escola a Oxum, divindade associada à prosperidade, fertilidade e amor, que no sincretismo é Nossa Senhora da Conceição.
A bateria, por sua vez, foi dedicada a Oxóssi, o orixá da caça e da fartura, que no sincretismo é São Sebastião. Essa consagração deixou um legado no ritmo da escola: o toque de caixa da bateria da Portela — hoje conhecida como Tabajara do Samba — é uma saudação a Oxóssi. Esse vínculo simboliza a conexão profunda entre espiritualidade e música.