Carta para a minha igual de alma
Duque de Caxias, 25 de outubro de 2020.
Querida Luanda,
Saúde para ti e para os teus.
Recebi tua carta, que me causou tamanha reflexão. Infelizmente, só pude respondê-la hoje e peço perdão por tê-la deixado esperar. Não posso expressar meus sentimentos de forma tão clara quanto tu consegues, mas acredito estarmos vivendo situações semelhantes.
Tenho enfrentado muitos medos nos últimos meses e preciso me focar mais para errar menos. O problema é que, ultimamente, até mesmo nas minhas poucas idas a supermercados e qualquer outro lugar com um número alto de pessoas para uma pandemia, esses medos vêm me seguindo. Olho em volta e, esse vazio em lugares cheios, todas aquelas pessoas com uma busca tão rasa por aceitação. Quando foi que nos perdemos assim?
Deves estar se perguntando o que digo quando me refiro a “errar menos”. Luanda, mesmo hoje, vivendo em melhores condições, com o dinheiro como privilégio, eu ainda continuo apanhando. Da vida. Da polícia. Dos meus medos. Das minhas dúvidas, da culpa que minha pele carrega. Percebo que hoje nem dou mais atenção à minha mãe, tampouco lembro do meu pai. Acho que, quando eu ficava apenas dentro do quarto, eu era menos ausente. Quando foi que eu deixei de ser tão humilde?
Tem pessoas que me cobram necessidades que nunca passaram. E, se passaram, devem saber da dor que a impotência causou. Não aguento mais ser comparada com essas pessoas, pois juro não ser como elas. Tenho precisado de mais autoestima e confiança, mas não posso deixar que isso pese na balança. Afinal, de que adianta tanto dinheiro se minhas joias me trouxeram também paranoias? Preciso de algo que me guie para o caminho certo, uma luz talvez.
Por favor, deixe o distanciamento ser apenas social. Não tome como exemplo o tempo que demorei para respondê-la. Preciso de alguém que me leia e não somente as minhas cartas.
Abraços, até breve.
Maria