O que existe dentro de mim?

Ouça um trecho da carta narrada por sua escritora Isabela.

Rio de Janeiro, 14 de maio de 2021.

Depressão,

Desculpe pela introdução tão seca. Eu não sabia muito bem como chamá-la. Seria estranho me referir a você como “querida”, “cara”, ou “prezada”, pois você sabe que não é nada disso. Você é apenas presente.

Imagino também que você não receba cartas com frequência, e sei que isso pode estar lhe parecendo um tanto estranho. Assim, vou logo lhe dizer as intenções das minhas palavras: depois de tantos anos juntas, gostaria que essa relação deixasse de ser uma via de mão única. O problema é que eu nunca te digo nada, enquanto você domina meus pensamentos e me consome um pouco a cada momento, todos os dias. Acho que finalmente encontrei forças para contar o meu lado da história.

Eu sei que você é bem antiga e que eu não sou a única pessoa que acompanhou ao longo da História da humanidade. Você está nas palavras de Clarice Lispector, minha escritora favorita, de Charles Dickens e de Sylvia Plath. Esteve também com Santos Dummond, o inventor do avião. Você conheceu até Martin Luther King Jr., uma das figuras mais emblemáticas do mundo ocidental. Sei também que todas essas pessoas vieram de um contexto de vida singular e que nem sempre é possível saber exatamente por que você resolveu aparecer na realidade delas, e nem na minha.

Por isso, acho importante expressar os meus sentimentos, pois cada indivíduo vive contigo de uma forma. No meu caso, você me faz sentir como um ser que não é. Algo de uma existência tão frágil que aparece e, logo depois, some. Eu me sinto, principalmente, como uma escritora que não escreve: as palavras me impedem de me perder dentro dos meus próprios pensamentos, mas não consigo encontrar ânimo para escrevê-las. Então, fico com um excesso de sentimentos, alguns pertinentes e outros não, num ser ou não ser eterno. É preciso estar sempre me equilibrando nessa corda bamba, entre o desistir e o resistir.

Eu não quero mais me sentir dessa forma. Eu quero encontrar meios de existir completamente. Às vezes me pego imaginando como deve ser respirar longe de toda essa névoa. Como deve ser sorrir com os olhos de forma genuína. E como eu desejo ter energia e amor para compartilhar com aqueles a minha volta. Então, não te demores dentro de mim, não da forma como estás. É meu único pedido.

Sinceramente,

Isabela

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