Revolta do Vintém
“Eu necessariamente hei de ter andado à baila”, disse D. Pedro II sobre a imagem de seu governo após a turbulenta semana de protestos que varreu as ruas do Rio de Janeiro, na virada de 1879 para 1880. O estopim da Revolta do Vintém foi a aprovação de um projeto de lei que aumentava em vinte réis – valor equivalente a um vintém – a passagem dos bondes na capital do Império.
Os protestos começaram em 28 de dezembro de 1879, quando uma multidão se reuniu no campo de São Cristóvão, para ouvir o republicano Lopes Trovão disparar broncas contra a nova medida econômica. De lá, saiu uma passeata rumo ao Palácio da Boa Vista, com o propósito de levar ao imperador uma petição para a revogação da lei.
Mas o pelotão da cavalaria impediu o acesso ao “portão da coroa”. D. Pedro II tentou, em vão, voltar atrás e mandou dizer que estaria disposto a receber uma delegação dos manifestantes. Dessa vez, foi Lopes Trovão quem não aceitou a oferta. A crise estava lançada.
Em 1º de janeiro de 1880, data marcada para o início de cobrança da nova tarifa, cerca de quatro mil pessoas se recusaram a usar o transporte público e se concentraram no largo do Paço para uma nova passeata. Os manifestantes entraram na rua Direita, atual Primeiro de Março, seguiram até a rua do Ouvidor e pegaram a reta que dá no largo de São Francisco.
No caminho, derrubaram bondes, espancaram condutores, esfaquearam animais usados como força de tração, retiraram trilhos e ergueram barricadas. O Exército foi enviado para controlar a situação. Em meio ao confronto, o comandante, barão do Rio Apa, levou uma pedrada, e a reação veio à bala. Ao final do dia, o saldo foi de três mortos e quinze feridos.
Os confrontos se estenderam até o dia 4 de janeiro, quando a chamada Lei do Vintém foi revogada. Mas não estancou o desgaste na imagem de Sua Majestade: nascido e criado com aclamações por onde passava, D. Pedro II teve de aprender a conviver com a hostilidade de uma população revoltada bem debaixo de suas barbas.
Este texto foi elaborado pelo pesquisador Danilo Araujo Marques do Projeto República (UFMG).
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