Os Jornais e as Revistas
Para que uma literatura pudesse existir na cidade do Rio de Janeiro, era necessário que, antes de tudo, tivéssemos uma imprensa. E isso só ocorreu com a vinda da família real portuguesa, em 1808. A chegada da corte transformou a vida cultural da cidade e introduziu, a partir de máquinas inglesas, a Imprensa Régia. Ainda em 1808, a Gazeta do Rio de Janeiro se tornou o primeiro jornal a circular nacionalmente.
O funcionamento da única impressora na cidade ficou sob responsabilidade do governo até 1821, quando finalmente a imprensa se tornou livre no país. Não só o número de tipografias aumentava, como a censura prévia, que existia desde o início do jornalismo na cidade, foi abolida. Tais iniciativas provocaram uma explosão de jornais e fez com que o hábito da leitura – inicialmente de informações oficiais do governo e notas sobre realezas europeias – se espraiasse entre a população letrada.
Alguns dos jornais que circulavam na cidade, ainda na primeira metade do século XIX, eram O Paiz, O Diário de Notícias, o Jornal do Comércio (fundado em 1827 e um dos mais longevos), a Gazeta da Tarde e o Diário do Rio de Janeiro – muito conhecido na época como “Diário da manteiga”, por apresentar diariamente o preço de gêneros alimentícios, e famoso pelos aplausos obtidos em 1868 por Castro Alves, ao ler, por horas a fio na redação, sua peça Gonzaga ou a revolução de Minas.
Entre as revistas, temos O Mosquito, Semana Illustrada, Revista Illustrada e a Revista Brasileira – veículo que difundiu a prática da crítica literária e onde foi publicado inclusive o folhetim Memórias Póstumas de Brás Cubas, durante o ano de 1881.
Havia também uma série de jornais efêmeros, atrelados ao debate político e feitos praticamente de forma artesanal por uma única pessoa. Eram os chamados pasquins, com nomes famosos na época como Cipriano Barata. Um dos principais jornais de vida breve desse tempo foi A Marmota Fluminense, que começou suas atividades em 1849 como A Marmota na Corte e ainda se chamaria apenas A Marmota. Foi uma iniciativa do tipógrafo, impressor e editor Francisco de Paula Brito. Foi na Marmota que Machado de Assis publicou seus primeiros contos e poemas.
Aos poucos, os jornais foram conquistando espaço no cotidiano do carioca e se tornaram um veículo fundamental para que os aspirantes a uma vida com as letras começassem a publicar seus primeiros escritos e trabalhos. Foi no Correio Mercantil, em 1854, que José de Alencar iniciou sua carreira de cronista e jornalista. Era nesse mesmo jornal que Manuel Antônio de Almeida escrevia e que, em 1858, conseguiu, para o jovem Machado de Assis, seu primeiro emprego de revisor. Logo depois, ele iniciaria na mesma folha sua trajetória brilhante de cronista.
Ao longo da segunda metade do século XIX, escritor e jornalista se tornaram praticamente sinônimos. Entre 1840 e 1870, o número de exemplares de jornais vendidos na cidade passou de cinco mil para trinta mil. Muitos escreviam sob pseudônimos, para poderem colaborar simultaneamente em diferentes veículos. A estratégia também servia para autores se protegerem de ameaças políticas ou para não serem vinculados à prática literária, vista por muitos ainda como um trabalho que não era digno de uma carreira.
Mesmo assim, foi através dos jornais e revistas da cidade, que a literatura carioca ganhou um rosto próprio, a partir da década de 1850. Além de Alencar, Manuel Antônio de Almeida e Machado, nomes como Joaquim Manuel de Macedo, Olavo Bilac, Raul Pompéia, Aluízio Azevedo, Bernardo Guimarães e muitos outros menos conhecidos fizeram do jornalismo um espaço constante de criação literária – tradição que perduraria pelas décadas seguintes.