Poetas e Oradores

A vida literária na corte ficou conhecida como uma verdadeira epidemia de poetas. A relação direta da imagem do escritor com os heróis do romantismo francês, a ampliação de publicações por meio de jornais e revistas de diferentes procedências, além de uma sociabilidade voltada para saraus e salões em que não podiam faltar discursos e homenagens, faziam do poeta o personagem incontornável da capital do Império.  

Naquele momento, o ofício de poeta era valorizado entre os estudantes das poucas faculdades de medicina, direito ou engenharia que existiam na cidade. Entre os jovens que publicavam, era comum realçar tal condição acadêmica nas folhas de rosto. A poesia, aliás, era uma condição praticamente reservada aos que tinham entre dezoito e vinte e cinco anos. O lirismo e os exageros românticos daquele período não cairiam bem em homens adultos e com profissões respeitáveis.  

É importante lembrar que a maioria desses jovens poetas eram declamadores, que liam em público seus poemas em qualquer ocasião possível. Muitos deles nunca publicariam um livro, porém, marcavam os cafés, festas e teatros da cidade, com sua verve romântica de improvisos em louvor de musas, do Imperador, de Deus ou de uma atriz que fazia sucesso na época.  

Machado de Assis, um dos maiores nomes da literatura brasileira, com cerca de 25 anos. Fundo Correio da Manhã, Arquivo Nacional  
 

Machado de Assis, em suas Aquarelas – série de crônicas publicadas na revista O Espelho em 1859 – mapeou esse tipo, chamando de “fanqueiros literários”. Eram poetas de ocasião, que não perdiam tempo em praticar sua “fancaria” (comércio que visa apenas ao lucro) em batizados, noivados, velórios ou jantares. Para um Machado de 20 anos – que também iniciava sua obra poética -, eles eram uma “calamidade literária”. Um dos personagens mais famosos desse tipo de prática na cidade foi Inácio José Ferreira Maranhense, conhecido como Vate de Bacanga.

Primeira edição da revista O Espelho (1859), onde Machado de Assis publicou Aquarelas. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

A poesia em jornais era também um modo de provocar desafetos, criar desafios – os motes e glosas – ou fazer crítica política. Protegidos pelo anonimato que era comum na imprensa, vários poemas ficaram famosos, no período, por suas rimas criticando a família imperial, pelo humor sobre os costumes do período ou pelo tom de desafio contra outros poetas. Em suma, a poesia era não só um gênero literário, mas um meio de sociabilidade e opinião que envolvia diferentes camadas sociais. Havia poetas da corte e poetas do bairro, poetas líricos e poetas sarcásticos, poetas brancos e poetas negros. A poesia foi, por muitas décadas, uma arena popular para o dia a dia da cidade.  

Essa quantidade de poetas de ocasião demonstra como a palavra poética circulava entre a sociedade carioca do período. Boa ou má, o fato é que o poeta se tornou um personagem do cotidiano, com diversos nomes que entraram para a história da literatura brasileira. É do período da corte nomes como Fagundes Varela, Laurindo Rabelo, Casimiro de Abreu, Luís Gama, José de Alencar, Bernardo Guimarães, Junqueira Freire, Raimundo Correia e tantos outros que, hoje desconhecidos do grande público, eram populares em qualquer roda literária.  

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