Igreja de São Pedro dos Clérigos

Há quem diga que a Igreja de São Pedro dos Clérigos foi a maior joia barroca da cidade. Sua arquitetura de formas curvas, seu interior decorado pelo rico trabalho de talha de ninguém menos que Mestre Valentim, suas esculturas e esquadrias suntuosas: eram vários os detalhes a atestar o caráter precioso da pequena igreja que, hoje, só podemos conhecer pelas fotografias ou pela imaginação. Construída a partir de 1733 e alvo de reformas e restaurações ao longo do tempo, é considerada um projeto singular. Sua importância simbólica e arquitetônica era tão grande que foi tombada pelo serviço de patrimônio histórico. Mas em vão. A capela havia cometido o pecado de estar no caminho da futura avenida Presidente Vargas, menina dos olhos do prefeito Henrique Dodsworth. Teria então que ser demolida, para abrir passagem à nova via.

Diante de seu iminente desaparecimento, foi grande a grita de fiéis, historiadores e arquitetos. A igreja então acabou no centro de um projeto algo insólito. A prefeitura queria removê-la de seu lugar e deslocá-la até outro terreno, lançando mão de uma tecnologia considerada de ponta na época, que consistia em aplicar concreto na base das paredes e transportar toda a construção sobre rodas, também de concreto. Nem especialistas brasileiros e nem estrangeiros, porém, conseguiram garantir a segurança da empreitada. Diante do impasse, o prefeito não titubeou. Com uma canetada, desfez a proteção da capela, que deixou de ser patrimônio histórico, e autorizou a sua demolição, que ocorreu em 1944. Antes da derrubada, o mobiliário, as esquadrias, obras artísticas, talhas e demais peças da construção foram retirados do templo, para que ele pudesse ser reconstruído no futuro. Isso nunca aconteceu, e os fragmentos do que no passado foi a Igreja de São Pedro dos Clérigos acabaram dispersos em museus e em outros templos.