Revistas Ilustradas e artes gráficas

Apesar das artes visuais cariocas serem majoritariamente feitas no âmbito de suas instituições oficiais e de seu perfil acadêmico, as transformações que ocorriam no Rio de Janeiro levaram artistas de diferentes lugares e perfis a atuarem nas novas mídias que passaram a circular entre a população. O crescimento urbano e o viés parisiense que as reformas de Pereira Passos imprimiram no centro da cidade, dinamizaram uma série de setores ligados à cultura e ao entretenimento. Entre cinemas, lojas de fonógrafos, estúdios fotográficos e renovações arquitetônicas, as revistas ilustradas se tornaram uma febre e um espaço de trabalho para outro tipo de artistas que não os pintores oficiais de batalhas históricas e os escultores de monumentos. Eram cartunistas, ilustradores, futuros pintores e designers em geral que revolucionaram a cultura da imagem na cidade.

Caricatura da artista francesa Réjane, por Nair de Teffé na Revista Fon-fon de 31 de julho de 1909. Teffé assinava com o pseudônimo Rian. Fonte: Hemeroteca digital

Tendo como uma das principais origens o trabalho do artista gráfico ítalo-brasileiro Angelo Agostini e sua Revista Ilustrada (fundada em 1876), a era republicana se lançava ao país através de revistas cariocas como O Malho (1902-1952), Careta (1908-1960) e Fon-Fon (1907-1958). Entre muitas outras de sucesso, elas traziam nas suas páginas de crítica política a invenção gráfica do espírito urbano carioca que nascia na belle-époque local. Nomes fundamentais desse período foram Nair de Teffé, Raul Pederneiras, Belmonte, K. Lixto (ou Calixto), Malagute entre outros.

Dentre os grandes artistas desse período, o mais conhecido e marcante pelo seu trabalho foi o carioca José Carlos de Brito e Cunha, conhecido por todos apenas como J. Carlos. Ilustrador, designer gráfico, chargista, editor, ele conduziu por anos a revista O Careta, além de ter colaborado com praticamente todas as grandes revistas do seu tempo. O mais marcante em sua obra foi a criação de tipos urbanos cariocas que – malgrado o uso explícito de conotações racistas que circulavam abertamente em seu tempo – se tornaram definitivos na imaginação pública da população. A melindrosa, os personagens da cultura negra como sambistas, malandros e populares, fez do trabalho de J. Carlos uma forma de arte urbana e popular que poucos alunos da Escola Nacional de Belas Artes conseguiram igualar em suas telas. 

Charge de J. Carlos, revista Careta, outubro de 1921 – Hemeroteca Digital

Outro nome importante para as artes visuais brasileiras que surge no âmbito das revistas ilustradas cariocas é Di Cavalcanti. O jovem carioca, ainda com menos de vinte anos, já trabalhava como ilustrador nas páginas concorridas da revista Fon-Fon. Fazendo também capas sofisticadas, a arte de Di nesse período tinha forte influência da Art Noveau, movimento europeu que transformava arte gráfica do ocidente. Di fez não só trabalhos para as revistas, como também teve na redação da revista A Cigarra o local de sua primeira exposição na cidade, em 1917. Seu desenvolvimento o fez se aproximar da pintura, apesar de sua relação com os artistas que fundariam ao seu lado o modernismo em São Paulo ter sido construída através do seu trabalho gráfico – como as ilustrações para o livro Carnaval de Manuel Bandeira ou o famoso cartaz da Semana de Arte Moderna em 1922.

Di Cavalcanti, capa da Revista Fon-Fon, 1907. Fonte: Hemeroteca Digital

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