A galeria apresenta o desenvolvimento urbano do Rio ao longo de seus quase cinco séculos de existência, desde antes da sua fundação até os dias atuais. As mudanças nos modos de construir e viver, os atores fundamentais para a transformação do espaço urbano e as diferentes estratégias para tornar o Rio de Janeiro uma cidade mais salubre são os fios condutores dessa viagem pelo Rio, cidade em transformação.

Curadoria: Antonio Edmilson Rodrigues

Quem viu primeiro a Baía de Guanabara foi Gaspar de Lemos, em 1502. Depois dele, outros navegadores passaram por essas águas e em 1565, Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, na entrada na baía – mais precisamente entre os Morros Cara de Cão e Pão de Açúcar. Dois anos depois, na última batalha contra os franceses pelo domínio dessas terras em 1567, o fundador da cidade foi mortalmente ferido e seu tio, Mem de Sá, transferiu a sede para o alto de outra colina: o Morro do Castelo.

Roma, capital do Império romano, cidadela da fé católica, foi erguida entre sete colinas. A partir delas os romanos construíram a cidade eterna. No Atlântico Sul, quatro colinas animadas pela mesma fé católica delimitaram as primeiras fronteiras da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, cada uma sob o domínio de uma ordem religiosa.

O Barroco se consolidou no século XVIII, quando o Rio se tornou cidade central para a saída do ouro descoberto no século anterior. Por aqui, circulavam as tropas que chegavam das Minas, e, com elas, os setores econômicos do abastecimento e do comércio externo cresceram. A cidade recebia os ares das mudanças que ocorriam na Europa, e a religiosidade barroca passou a se impor na urbanidade, com a proliferação de igrejas e conventos. A paisagem, emoldurada pela baía de Guanabara como uma grande avenida, contava com a presença das torres das igrejas.

As mudanças arquitetônicas do século XVIII deixaram um legado na cidade que se modificava e crescia em ritmo vertiginoso. A Igreja da Sé, o porto, o alargamento das ruas, a criação dos largos e espaços públicos confirmavam o novo perfil do Rio. As construções sólidas demonstravam a evolução urbana, e se podia sentir o pulsar da intervenção do homem na natureza da cidade.

Em 1763, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro se tornou a capital do Brasil Colônia, no lugar de São Salvador. A mudança foi consequência da posição estratégica que o Rio ocupava em função de sua proximidade com a região das Minas – onde havia sido encontrado ouro de aluvião em abundância, no fim do século XVII – e conferiu um imenso protagonismo à cidade, do ponto de vista político e econômico.

A iminente invasão napoleônica em Portugal e a consequente fuga da Família Real para a Colônia nas Américas, em 1808, iniciou uma nova fase na história do Brasil e, principalmente, do Rio, que se tornou a capital do Império português. A cidade se internacionalizou a partir da abertura dos portos, incorporando-se definitivamente ao mundo ocidental. Como consequência, as ideias republicanas que emergiram a partir dos movimentos inconfidentes foram afastadas e os esforços se voltaram para as reformas iluministas e o processo de “europeização” do Rio de Janeiro, iniciado no século XVIII.

Até o século XIX, as elites e as classes pobres se misturavam, majoritariamente, nas freguesias centrais da cidade: as elites nas freguesias próximas ao centro do poder político e os pobres nos locais mais afastados. Mas o adensamento populacional na região, aliado à expansão da cidade para áreas mais distantes, contribuíram para a migração das classes abastadas para a então distante zona sul. A partir da chegada da Missão Artística Francesa, o neoclássico começou a fazer parte do cenário das áreas nobres, enquanto as classes pobres conviviam nas áreas em que a miséria formava a paisagem. O discurso sanitarista – voltado para a salubridade e beleza – adquiriu expressividade ao longo do século e foi a partir dessas concepções que o espaço urbano começou a ser pensado.

Na segunda metade do século XIX, as ideias de civilização e progresso se consolidaram tomando como modelo as metrópoles europeias, mas havia uma imensa defasagem entre os ideais e a realidade. A diversidade social e étnica que existia na capital do Império provocava reações – nas elites – que contribuíam para um cenário de exclusão e associavam a modernização à segregação social do espaço urbano. A necessidade de conter os problemas com higiene pública, que limitavam a expansão urbana pretendida, continuaram direcionando as intervenções urbanísticas.

No início do século XX, a pretensão de tornar o Rio de Janeiro uma “grande capital europeia” se consolidou, com a chegada de Francisco Pereira Passos à prefeitura do Distrito Federal. O engenheiro, que participou dos debates acerca da “civilização” da cidade desde o final do século anterior, foi o responsável pelas transformações na região central, que conferiram ao Rio o status de “Paris nos Trópicos”. A abertura da avenida Central, a construção do Theatro Municipal e dos edifícios da Biblioteca Nacional e da Escola de Belas Artes estabeleceram o art nouveau e a arquitetura eclética na capital que, a despeito de todas as tentativas de civilização, ainda convivia com a miséria e os costumes compreendidos – pela elite – como símbolos do atraso.

O debate sobre a arquitetura moderna no Brasil foi decisivo para a cidade do Rio de Janeiro. Do Plano Agache, passando pela abertura de grandes praças – como a Cinelândia – e grandes avenidas, até chegar ao primeiro arranha-céu da América Latina, a art déco reformulou a arquitetura de uma cidade que vivia em constante ebulição.

Os anos 1920 trouxeram mudanças importantes para o Rio, com distinção de funções e usos das diferentes partes da cidade. A zona sul, voltada para as atividades de lazer em função da orla marítima, se consolidou a partir do crescimento populacional e do desenvolvimento urbano, produzindo uma paisagem diferente daquela rusticidade própria das orlas de areias brancas e barulho do mar. Partindo da Tijuca, a zona norte tomou a direção do trabalho, concentrando as atividades econômicas baseadas na utilização da mão de obra dos setores populares e médios da cidade.

Essa dualidade, entretanto, não significou, de início, uma cidade partida. O novo desenho era fruto não só da geografia da região, mas também de projetos urbanísticos. Os bairros de Copacabana e do Meier são bons exemplos para entender essa faceta do Rio.

A história do Rio de Janeiro está repleta de tensões que envolveram a luta por moradia. Desde o século XIX o drama da crise habitacional faz parte da vida na cidade. Incêndios “inexplicáveis”, remoções sumárias e especulação imobiliária foram e são realidades na vida de quem, por descaso dos que têm o poder nas mãos, foi obrigado a morar nos morros e cortiços. No século XX, algumas iniciativas buscaram solucionar parte das questões habitacionais. O problema é que essas soluções nem sempre vieram de forma pacífica…

As intervenções urbanas se intensificaram a partir dos anos 1960 quando o Rio de Janeiro se vestiu de cidade modernista, consolidando propostas que combinavam Agache e Le Corbusier. O Parque do Flamengo se destacava por mostrar a direção burguesa das reformas com sua continuidade pela avenida Perimetral, que levava a população da Zona Sul para as áreas de veraneio sem transitar pelo passado da cidade, passando ao largo do Centro. Um Rio de Janeiro cada vez mais excludente.

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