Engenheiros, arquitetos, arruadores e artífices

Conhecer aqueles que estiveram diretamente envolvidos com a construção da cidade permite entrever sua evolução arquitetônica. No século XVIII, o espaço urbano foi pensado e concebido por engenheiros militares – em decorrência do desconhecimento do território e das guerras que ocorreram nas fronteiras marítimas do Rio -, mas também por arquitetos e arruadores. Alguns homens desempenharam papel central nessa tomada de consciência dos problemas urbanos e, principalmente, a partir da metade do século, uma nova perspectiva sobre os modos de construir e habitar se delineou na cidade. Dois nomes se destacam: José Fernandes Pinto Alpoim e o Mestre Valentim.

Valentim Fonseca, o Mestre Valentim. Busto inaugurado no Passeio Público em 1913, ano do centenário de sua morte. Imagem em domínio público – Wikimedia Commons

O engenheiro militar português José Fernandes Pinto Alpoim foi enviado à capital da colônia como comandante do novo Batalhão de Artilharia do Rio de Janeiro, criado por D. João V, em 1738. Uma vez na cidade, ministrou as aulas dos cursos de Artilharia e Fortificações, contribuindo para o ensino da matemática, da arquitetura e da construção na colônia. Escreveu dois importantes manuais, Exame de Artilheiros (1744) e Exame de Bombeiros (1748), e se tornou um dos principais nomes da arquitetura colonial do século XVIII, unindo sua qualidade de especialista em fortificações a uma grande sensibilidade estética. Ele foi o principal construtor das obras idealizadas por Gomes Freire de Andrade.

São alguns projetos de Alpoim: a reforma dos Armazéns do rei para a criação  do Paço dos Governadores (atual Paço Imperial), inaugurado em 1743, pelo governador Gomes Freire; o projeto inicial da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte (1735), com a portada central e a capela-mor elaboradas pelo Mestre Valentim; a reconstrução do Aqueduto da Carioca (1750) que, junto ao Passeio Público (projeto de Mestre Valentim), foram os dois grandes projetos do século XVIII; e o projeto do conjunto de casas da família Telles de Menezes, no atual Arco do Teles.

O Arco do Teles – projeto de José Alpoim – fazia parte dos prédios da família Telles de Menezes, daí o nome do arco. Imagem retirada do site O Rio de antigamente

Mestre Valentim foi escultor, entalhador, arquiteto e urbanista. Nasceu em Minas Gerais e ainda criança foi para Portugal, onde aprendeu os ofícios de entalhador e escultor. Depois de voltar ao Brasil, por volta de 1770, tornou-se o principal construtor de obras públicas durante o vice-reinado de D. Luís de Vasconcelos e Sousa, trabalhando em obras de saneamento, abastecimento e embelezamento da cidade, misturando técnicas do Barroco e do Rococó. Construiu o chafariz da atual Praça XV, em 1789, e foi responsável pelas obras do Passeio Público (1783) e o Chafariz das Marrecas, em 1785 (demolido no século XIX); executou imagens sacras para diversas igrejas, como a de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte, São Pedro dos Clérigos e Santa Cruz dos Militares.

O Passeio Público, projeto de Mestre Valentim (1783). Augusto Stahl, 1862. Instituto Moreira Salles. Localização 001SW001006

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