Passeata dos Cem Mil
As violências cometidas pela Polícia Militar contra a população do Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1968, no que ficou conhecido como Sexta-feira Sangrenta, não seriam esquecidas pelos moradores da cidade. Diferentes setores da sociedade se organizaram para mostrar que não tolerariam tais arbitrariedades e o fizeram por meio de uma grande manifestação pacífica.
A costura política começou com a pressão de intelectuais e artistas, para que o governador do estado da Guanabara, Negrão de Lima, autorizasse a passeata e garantisse a não interferência da polícia. Dado o aval, estudantes, religiosos, professores e mães seguiram com a organização da passeata, programada para o dia 26 de junho.
No dia marcado, ainda pela manhã, centenas de pessoas se reuniram nas escadarias da Assembleia Legislativa. Esperançosos, levavam cartazes com diferentes palavras de ordem. Vladimir Palmeira, um dos líderes estudantis mais importantes do período, foi o mestre-sala do ato. Durante a concentração, na Cinelândia, seus discursos foram ovacionados; professores, bancários e padres também foram ouvidos. Dona Irene Papi, uma das oradoras, emocionou os presentes: “Falo em nome de todas as mães que viram seus filhos serem massacrados”.
Por volta das 14h, a passeata, que já reunia mais de cem mil pessoas, partiu rumo à Candelária. Organizados por alas, iam na frente os artistas – Chico Buarque, Paulo Autran e Clarice Lispector marchavam de braços dados. Em seguida, os religiosos, deputados, estudantes e muitos mais. Das janelas dos edifícios, chovia papel picado. A frase de ordem do dia foi “Abaixo a Ditadura”, embora houvesse divergência quanto ao modo de a derrubar. Apesar das críticas ao governo ditatorial, o ato terminou na praça Tiradentes sem registrar um confronto.
Dias depois, o presidente Costa e Silva recebeu uma comissão de representantes escolhidos durante a manifestação. As reivindicações apresentadas, como a libertação dos estudantes presos e a concessão de mais verbas para as universidades, no entanto, foram descartadas. A Passeata dos Cem Mil seria a última grande manifestação daqueles anos.
Este texto foi elaborado pela pesquisadora Pauliane de Carvalho Braga do Projeto República (UFMG).
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