Protesto dos Oito do Glória
Praia do Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1965. Em frente ao tradicional Hotel Glória, um grupo formado por artistas e intelectuais organizou o que seria uma das primeiras manifestações públicas contra a Ditadura Militar. Eram nove os manifestantes: os jornalistas e escritores Antonio Callado, Marcio Moreira Alves e Carlos Heitor Cony; os cineastas Glauber Rocha, Márcio Carneiro e Joaquim Pedro de Andrade; o embaixador Jayme de Azevedo Rodrigues – recém-afastado do Itamaraty; o diretor teatral Flávio Rangel; e o poeta Thiago de Mello.

Fundo Última Hora/APESP.
Em meio a repórteres, fotógrafos e correspondentes internacionais, os nove estavam à espera do general Castello Branco, responsável pelo discurso que abriria o encontro da Organização dos Estados Americanos (OEA) naquela noite. Quando os batedores que acompanhavam a comitiva presidencial apontaram na rua do Russell, que dá acesso ao hotel, já estavam prontos.
Foi a conta de Castello Branco descer do carro, para iniciarem os gritos de “Abaixo a ditadura”. Os manifestantes erguiam faixas com frases curtas e letras grandes o suficiente para saírem bem nas fotos: “Bienvenidos a nuestra dictadura”, “Viva a liberdade”. Oito deles acabaram presos – Thiago de Mello conseguiu escapar antes da chegada dos policiais.

No dia seguinte, o jornal O Globo noticiou na primeira página: “Esquerdistas fazem arruaça e acabam presos pelo SOPS”, o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), chamado de ‘Serviço’ pelo jornal. Mas a repercussão do caso não foi boa para os militares.

18 de novembro de 1965, ano XLI, nº 12126.
Enquanto os “Oito do Glória” passavam seus dias na carceragem do Batalhão da Polícia do Exército – na rua Barão de Mesquita, Tijuca–, protestos contra a prisão brotavam de todos os cantos. Do exterior, partiram de nomes como o escritor Alberto Moravia e os cineastas Luis Buñuel, Pier Paolo Pasolini e Jean-Luc Godard. Depois desse episódio, os militares não teriam mais dúvidas: a repressão à classe artística e intelectual não haveria de ser simples.
Este texto foi elaborado pelo pesquisador Danilo Araujo Marques do Projeto República (UFMG).
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