Assassinato do estudante Edson Luís
O novo Restaurante Central dos Estudantes, inaugurado em 1967, nas proximidades do aeroporto Santos Dumont, era um enorme galpão com capacidade para dez mil pessoas. Mais conhecido como Calabouço, atendia a alunos carentes, em especial, secundaristas e vestibulandos, e era mantido com verba do Governo Federal. Embora barata, a comida era ruim e o local, insalubre.
Com frequência, os estudantes organizavam passeatas para protestar contra as más condições, como aconteceria no dia 28 de março de 1968. Dessa vez, contudo, foram surpreendidos pelas viaturas policiais que cercaram o local. Os manifestantes reagiram atirando pedras; a polícia, rajadas de metralhadora. No embate, seis pessoas foram feridas. Uma delas, fatalmente, no peito: o estudante Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos.
O jovem foi carregado por seus colegas do Calabouço até a Assembleia Legislativa, onde uma plenária com 55 deputados foi interrompida. O corpo de Edson Luís foi estendido no saguão do prédio, tornando público e inquestionável o assassinato cometido pela polícia. O movimento estudantil decretou greve geral, os teatros suspenderam seus espetáculos e, durante a noite, centenas de pessoas compareceram ao velório.
Na manhã seguinte, os jornais cariocas estampavam em suas manchetes “Assassinato”. Questionava-se a morte de um estudante ‘inocente’, que não era militante nem ‘subversivo’. Às 16h, mais de 50 mil pessoas participaram do cortejo que levou o corpo de Edson Luís ao cemitério São João Batista, em Botafogo. O caixão, coberto com a bandeira do Brasil, foi carregado por estudantes, deputados e artistas, que entoavam o Hino Nacional. Rosas foram jogadas do alto dos edifícios. Na multidão, cartazes com os dizeres “Os velhos no poder, os jovens no caixão”, “Bala mata fome?” e, talvez, o mais emblemático: “Mataram um estudante. Podia ser seu filho”.
Este texto foi elaborado pela pesquisadora Pauliane de Carvalho Braga do Projeto República (UFMG).