Motins causados pelo suicídio de Getúlio Vargas
Em 25 de agosto de 1954, manifestantes ocupam as ruas da capital, destroem e incendeiam carros e exemplares dos jornais O Globo e Tribuna da Imprensa, veículos abertamente opositores ao governo de Vargas.
O Brasil amanheceu no dia 24 de agosto de 1954, com a notícia do suicídio do presidente Getúlio Vargas, no programa de rádio “Repórter Esso”. O governo de Vargas enfrentava problemas políticos, com a organização da oposição e a falta de apoio de grupos que outrora estavam do seu lado, como as Forças Armadas e a imprensa. Ao se ver sem opções e se negando a renunciar, ele atirou contra o próprio peito.
No Rio de Janeiro, capital da República, o luto cedeu lugar à revolta. A multidão saiu da Galeria Cruzeiro, do largo da Carioca e do Tabuleiro da Baiana – famosos locais de manifestação política – e seguiu até a Cinelândia. Grupos mais exaltados atacaram as sedes e os carros de reportagem de periódicos de oposição a Vargas, como O Globo e Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda. Alinhado à União Democrática Nacional (UDN), ele se refugiou na Embaixada dos Estados Unidos, o que levou os revoltosos a apedrejarem o local.
O corpo de Vargas foi velado no salão do Gabinete Militar até o dia seguinte, quando foi conduzido ao aeroporto Santos Dumont, de onde seguiu para o sepultamento em São Borja (RS), sua cidade natal. Quando o avião decolou, a multidão que se arrastava em cortejo desde a orla da praia do Flamengo percebeu estar em frente ao quartel-general da Aeronáutica – a primeira e mais incisiva das Forças Armadas a exigir a deposição de Vargas.
Os manifestantes atacaram o prédio com pedras e paus, e logo os militares responderam com um forte tiroteio, resultando na fuga e pisoteio de muita gente. Os conflitos continuaram a sacudir o Rio de Janeiro pelos dias seguintes. O suicídio de Getúlio Vargas, aliado à reação popular nas ruas, acabou por frear um iminente golpe de Estado.
Este texto foi elaborado pela pesquisadora Júlia Kern Castro do Projeto República (UFMG).