Novembrada

Na madrugada de 11 de novembro de 1955, o ministro da guerra Henrique Lott se reuniu em sua casa, no Rio de Janeiro, com 30 generais de guarnições locais. Dali, saiu diretamente para o ministério e botou os tanques na rua, no contragolpe que garantiu a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek e ficou conhecido como Novembrada.

O objetivo do ministro era garantir a legalidade democrática. A posse de JK e João Goulart, eleitos para a presidência da República, iria ser impugnada pela oposição, capitaneada pela União Democrática Nacional (UDN) e por Carlos Lacerda – que liderava a fina flor do conservadorismo no país. O golpe de Estado estava em andamento.

JK e Jango se mostram tensos com a aproximação da posse, em charge de Appe (Anilde Pedrosa).
“O golpe, o fato novo e a centelha”, revista O Cruzeiro -1955 – Rio de Janeiro

A justificativa da oposição para tentar a impugnação era de que a vitória de Juscelino seria ilegítima, uma vez que sua candidatura não obteve a maioria absoluta dos votos. Porém, nem a Constituição de 1946, nem a legislação eleitoral em vigor exigiam maioria absoluta. Os golpistas planejavam impugnar a posse dos eleitos e impor ao país um governo de emergência.

A cidade foi tomada por tanques, carros de assalto e 25 mil soldados que ocuparam pontos estratégicos: o Campo de Santana, a estação de trem Central do Brasil e o aeroporto Santos Dumont. O presidente interino, Carlos Luz – que era presidente da Câmara e assumira o cargo após o vice-presidente Café Filho alegar problemas de saúde –, escapou do Palácio do Catete pela porta dos fundos. Os líderes golpistas se refugiaram no cais do Ministério da Marinha, no porto do Rio de Janeiro, e embarcaram no cruzador Tamandaré, que zarpou com destino a Santos. O plano era constituir um governo paralelo com o apoio do governador paulista Jânio Quadros.

A bordo do cruzador Tamandaré, integrantes do movimento de 11 de novembro embarcam para o porto de Santos: Jurandir Mamede (1º), Carlos Lacerda (5º, de óculos), Sílvio Heck (6º, de boné), Otávio Marcondes Ferraz (7º, de terno escuro e óculos). Fotógrafo desconhecido. Acervo CPDoc FGV

Quando o Tamandaré chegou ao canal de entrada da baía de Guanabara, os canhões das duas fortalezas militares – o Forte do Leme e o Forte de Copacabana – começaram a disparar. O cruzador conseguiu varar a barra, mas logo chegou pelo rádio a notícia de que São Paulo se rendera às tropas legalistas. Não tinha saída: o Tamandaré deu meia volta, Carlos Luz renunciou, e os líderes golpistas tiveram de negociar as condições do desembarque.

Tropas se entrincheiram nas proximidades do Quartel-General de Santos. São Paulo, novembro de 1955.
Fotógrafo desconhecido. Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional

O contragolpe promovido pelo general Lott foi fulminante. Após a rendição, quando a conjuntura política parecia finalmente entrar nos eixos, Café Filho saiu do hospital e anunciou sua disposição de reassumir a Presidência da República: a UDN voltou a se assanhar, e o Exército retornou com os blindados para as ruas do Rio.  Mas o Congresso Nacional votou a interdição de Café Filho e confirmou a posse de JK e Jango para 31 de janeiro de 1956. O general Lott jamais aceitou ter protagonizado um contragolpe – dizia ter liderado um “Movimento de retorno aos quadros constitucionais vigentes”.

Tropas do Exército estacionam na frente da casa de Café Filho, para garantir o impedimento de sua reocupação do cargo interino de presidente
da República, Rio de Janeiro – novembro de 1955 – Fotógrafo desconhecido. Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional

Este texto foi elaborado pela professora Heloisa Murgel Starling, professora titular-livre de História do Brasil no departamento de História da UFMG e coordenadora do Projeto República (UFMG).

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