Revolta do Bonde

No Rio de Janeiro de 1956, o bonde era o meio usado por grande parte da população para se locomover pela cidade, uma opção sobre trilhos boa e barata. Até o dia em que o prefeito Negrão de Lima autorizou o aumento de 100% no valor das passagens, dando início a um levante popular. Mas a Revolta do Bonde não foi a primeira vez, nem seria a última, em que o direito ao transporte público levaria os nervos dos cariocas à flor da pele.

Greve dos estudantes contra o aumento da tarifa– 1956 – Fotógrafo não identificado.
Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional

O reajuste da tarifa foi anunciado em uma terça-feira, 29 de maio. As conduções lotadas de passageiros indignados criaram o ambiente perfeito para espalhar a notícia de que, no dia seguinte, haveria uma manifestação contra o aumento da passagem.

Estudantes em greve – 1956- Fotógrafo não identificado. Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional

Sob a batuta da União Nacional dos Estudantes (UNE), universitários e secundaristas paralisaram pontos estratégicos da malha viária. Na esquina das avenidas Passos e Presidente Vargas, os estudantes colocaram um piano sobre os trilhos e dançaram ao som de paródias como “Senhor Negrão/Eu vou chamá-lo de tubarão/A um cruzeiro eu pago o bonde/A dois não pago não”.

Estudantes protestam contra o aumento da tarifa dos bondes – 1956 – Fotógrafo não identificado.
Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional

No Largo do Machado, uma mesa de xadrez impedia a passagem do bonde, enquanto um torneio de pingue-pongue animava o largo de São Francisco.  Tudo ao som de uma charanga que circulava pelos focos de interdição. Um caixão foi colocado em frente ao prédio da UNE, na praia do Flamengo, em ato simulando o enterro do prefeito.

Manifestantes jogam xadrez na linha dos bondes – 1956 – Fotógrafo não identificado. Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional

Após as 18h, o número de manifestantes aumentou. E a repressão também. Tropas da Polícia Militar foram enviadas para restabelecer a ordem na base de cassetetes. O confronto foi tão intenso, que o presidente Juscelino Kubitschek voltou às pressas de Belo Horizonte para acalmar os ânimos. No dia seguinte, enquanto os protestos se alastravam por outras capitais do país, JK recebeu líderes estudantis no Palácio do Catete. Após negociação, o aumento da passagem caiu pela metade.

Este texto foi elaborado pela pesquisadora Danilo Araujo Marques do Projeto República (UFMG).

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