O Rio de Janeiro é uma cidade de apagamentos culturais e ancestrais. A colonização portuguesa foi muito eficaz em destruir o que havia antes em nossa terra. Estudar os povos originários da Guanabara é, antes de tudo, reconhecer-se a si mesmo e entender como viemos parar aqui. Eles eram os donos da baía, das montanhas e florestas, deram os nomes aos lugares, bichos e plantas. Resistiram, batalharam e pereceram por essa terra. São a gênese da personalidade brasileira, do nosso jeito de ser e viver. Falamos palavras que vieram deles e eram estranhas ao português europeu. A galeria O Rio antes do Rio apresenta fragmentos da ancestralidade geográfica, histórica e cultural dos povos originários da Guanabara, bem como seus territórios, saberes e reminiscências que até hoje estão entre nós, cariocas.
Curadoria: Rafael Freitas da SilvaRevisão e pesquisa complementar: Gabriela Montoni e Davi AroeiraNossa identidade tupi é pouco reconhecida, menos ainda reverenciada. Ainda há muita confusão sobre quem eram os tupis originários da Guanabara. Termos como tupinambás, tamoios, maracajás e temiminós fazem parte do vocabulário histórico da cidade sem que, contudo, as pessoas percebam que se trata de um mesmo povo. Por conta da chegada dos europeus e das disputas coloniais, esse povo se fragmentou em busca de seus próprios interesses e alianças.
As principais ruas por onde andamos na cidade hoje eram lugares ancestrais. Caminhos que ligavam as diversas tabas que habitavam o entorno do Rio atual, algumas com com altas densidades populacionais. Quanto maior a taba, maior seu número de guerreiros e, portanto, mais amplo era seu poderio “militar”. Um bom contingente de guerreiros aumentava a possibilidade de um grupo ocupar as melhores terras. No Rio de Janeiro, onde os tupinambás encontravam fartura de recursos naturais e chuvas regulares, algumas aldeias chegavam a medir 500 metros de diâmetro, o equivalente ao comprimento de cinco campos de futebol.
A cultura, o folclore e os hábitos dos brasileiros foram e seguem fortemente influenciados pelos povos originários. As lendas e costumes que formaram e criaram nossa identidade nacional nos foi legada e repassada de variadas maneiras pelos primeiros moradores destas terras. Embora muitas pessoas não percebam no cotidiano, nosso jeito de ser, comer, falar, habitar, relacionar e a forma como vivemos nos trópicos, desde os tempos mais remotos da nossa ancestralidade, nos foram transmitidos geração após geração. Em casa de brasileiro, todos temos nossa rede. Aqui vamos mostrar algumas dessas manifestações culturais e características que nos fazem ser brasileiros e, antes de tudo, cariocas.
Fragmentos da cidade tupinambá, alguns bairros do Rio de Janeiro preservam as origens do povoamento e da ocupação no período colonial em seus nomes originários da terra. Alguns bairros resgatam em seus nomes nossa ancestralidade, como espécies de “fósseis culturais”. Hoje pertencentes ao imaginário de tantos cariocas, brasileiros como um todo, essas denominações de tabas tupinambás e lugares que sobreviveram por séculos nos levam a contar nossa história mais remota.
Personagens históricos do Rio de Janeiro, os principais líderes indígenas construíram um imaginário de resistência e estratégia em relação aos brancos europeus. Foram protagonistas de uma era marcada por intensas transformações. Lutaram, guerrearam e sentaram-se para negociar, fortes e determinados a se fazerem ouvir.