Karióka

“Karioka” era a primeira comunidade que podia ser acessada pelas embarcações que entravam na Baía de Guanabara, além de ser a taba mais famosa na atualidade. Com grafia “aportuguesada”, seu nome passou a designar o povo de toda a cidade do Rio de Janeiro.

Detalhe de mapa – O novo mundo descoberto e ilustrado de nosso tempo / André Thevet. Em destaque, a aldeia tupinambá e a França Antártica. Séc. XVI. Biblioteca Nacional Francesa

Antes da invasão dos europeus, os tupinambás sofriam ataques de outros povos indígenas da costa, que chegavam em frotas de canoas pela entrada da baía. A Karió-oca era uma das aldeias mais importantes dentro da comunidade indígena originária do Rio de Janeiro. Também chamada de Carijó-oca, era responsável pela primeira defesa e aviso a outras localidades de parentes da baía e interior. Ao sinal de perigo ou invasão da baía, dali partiam guerreiros velozes correndo pelas trilhas. Outras aldeias eram mobilizadas em resposta aos ataques, os quais certamente sofreram diversas vezes ao longo de mais de 1500 anos.

Indígenas lamentando a morte de um dos seus – na obra de Jean de Lery (séc. XVI). Biblioteca Nacional Francesa

A Baía de Guanabara era uma verdadeira cidade tupinambá: são contabilizadas em fontes históricas, de origem francesa ou portuguesa, mais de oitenta tabas e comunidades. Nas duas listas das tabas quinhentistas de autoria de Jean de Léry, a “Kariók” é apontada como a primeira taba “do lado esquerdo da baía”, o que localiza a comunidade muito próxima ao principal eixo do atual rio Carioca, ocupando a extensão de terras que hoje vai da Glória ao bairro do Flamengo, em algum planalto que se ergue ante os morros dessa região.

França Antártica — Rio de Janeiro / retirado das viagens que Villegagnon e Jean de Lery fizeram ao Brasil em 1557 e 1558 Villegagnon. É possível identificar a aldeia dos Tupinambás (Tupinambous) e uma identificação como “Carouque”. Biblioteca Nacional Francesa

O significado do termo “carioca” – ensinado erroneamente nas escolas como “casa do homem branco” – está explicado no relato de Léry, datado de 1574: 

“Nessa aldeia, assim chamada,/ verte-se por: casa dos kariós; composto desta palavra kariós (carijós) e de ók (oca), que significa casa. Tirando o ‘os’ (de kariós) e acrescentando ók, teremos kariók(a)”. 

Outra confirmação irrefutável sobre a origem de “carioca” é corroborada pelo jesuíta José de Anchieta, um dos mais presentes artífices da fundação do Rio de Janeiro (1565). Em Auto de São Lourenço, peça litúrgica escrita em 1583, Anchieta nomeia de maneira firme e segura as aldeias derrotadas pelos lusos nas batalhas quinhentistas da Guanabara. A taba “Carijó-oca” aparece logo entre as primeiras.

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