Zungus
Os zungus foram lugares muito importantes para escravizados e libertos do Rio no século XIX. Formavam uma “comunidade invisível” de solidariedade.
Nas línguas de tronco banto, zungu pode ser entendido como “toca” ou “buraco” (língua quimbundo); ou “casa de angu”, pela junção das palavras “nzu” – que quer dizer casa – e “ungu” – uma aproximação com a palavra angu (língua kigongo). No Rio, os zungus eram espaços localizados na região central da cidade, que serviam de moradia, local para práticas religiosas, festas, capoeira e como esconderijo de escravizados em fuga.
Eram casas escondidas entre os demais edifícios urbanos, com suas fachadas estreitas, longos corredores e pátios abertos no meio da construção. Em sua maioria, eram comandados pelas quitandeiras da praia do Peixe que, em solidariedade, serviam angu para outros escravizados urbanos, vindo daí a alcunha “casa de angu”. Circulavam pelos zungus muitos escravizados de ganho, libertos, recém-chegados do continente africano, escravizados vindos da Bahia e outras cidades que, misturados, dificultavam o trabalho da polícia de identificar quem era fugitivo e quem não era. A associação dos zungus com espaços para refeição também colaborou para que ficassem por muitos anos invisíveis aos olhos da repressão policial, que não enxergavam neles o mesmo perigo com que viam os quilombos. Essa invisibilidade foi fundamental para que os zungus se multiplicassem.
Nos anos finais da escravidão, os zungus já eram espaços conhecidos e combatidos pela polícia, que chegava a eles por meio de denúncias e realizava batidas para acabar com os “batuques”, levando à prisão escravizados e muitos libertos. Mas isso não era suficiente para que a população negra urbana deixasse de frequentar os zungus, fazendo com que eles existissem mesmo após a abolição.
A Casa da Tia Ciata, que nos anos finais do século XIX atuou como um importante espaço para a difusão do samba e demais manifestações culturais da população negra, para muitos estudiosos, representa uma vertente desses zungus do século XIX.