Revista O Cruzeiro
Um divisor de águas na imprensa nacional. Cosmopolita e sofisticada, a revista O Cruzeiro veio a lume já com estardalhaço. Dias antes de chegar às bancas, em 1928, quatro milhões de prospectos foram jogados do alto de prédios do centro do Rio, anunciando a novidade. Revista de variedades, apresentava o frescor de um projeto gráfico que injetava arrojo no mercado editorial brasileiro, com a grande valorização de fotos e de imagens, a boa qualidade de impressão e de papel.
Também representou renovação no campo do conteúdo, apresentando um foco de interesses muito mais amplo do que era praxe nas demais publicações da época. Pautas de comportamento e efemérides assomavam às suas páginas ao lado de temas políticos e da cobertura internacional. Trouxe uma nova linguagem para as revistas brasileiras, com a sua ênfase no fotojornalismo, que criou as duplas repórter-fotógrafo. Sua dobradinha mais famosa foi formada por David Nasser e Jean Manzon.
É muito comum associarem a gênese de O Cruzeiro ao empresário Assis Chateaubriand. Mas a verdade é que a ideia original da revista foi do jornalista português Carlos Malheiro Dias, que passou o controle de sua publicação a Chatô, por falta de recursos financeiros. Se não há dúvidas do caráter novidadeiro do semanário, por outro lado, também é inegável seu papel por vezes polêmico e controverso, como o apoio à Aliança Liberal de Getúlio Vargas e a história repleta de reviravoltas decorrente desse engajamento, com as famosas desavenças entre Vargas e Chateaubriand.
A revista conheceu seus tempos áureos na década de 1940, quando publicou textos de autores como Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Gilberto Freyre, Joel Silveira e Nelson Rodrigues. A coluna humorística Pif-Paf, de Millôr Fernandes, fez grande sucesso, assim como o cartum Amigo da Onça, de Péricles.
O Cruzeiro viveu alguns anos de decadência até parar de circular, em 1975. Alguns anos mais tarde, sob a gestão de novos empresários, retornou por algum tempo às bancas, mas sem o vigor e o charme do passado.