Zungus

Os zungus foram lugares muito importantes para escravizados e libertos do Rio no século XIX. Formavam uma “comunidade invisível” de solidariedade.

Nas línguas de tronco banto, zungu pode ser entendido como “toca” ou “buraco” (língua quimbundo); ou “casa de angu”, pela junção das palavras “nzu” – que quer dizer casa – e “ungu” – uma aproximação com a palavra angu (língua kigongo). No Rio, os zungus eram espaços localizados na região central da cidade, que serviam de moradia, local para práticas religiosas, festas, capoeira e como esconderijo de escravizados em fuga.

Negras vendendo angu na praia. Fonte: DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.

Eram casas escondidas entre os demais edifícios urbanos, com suas fachadas estreitas, longos corredores e pátios abertos no meio da construção. Em sua maioria, eram comandados pelas quitandeiras da praia do Peixe que, em solidariedade, serviam angu para outros escravizados urbanos, vindo daí a alcunha “casa de angu”. Circulavam pelos zungus muitos escravizados de ganho, libertos, recém-chegados do continente africano, escravizados vindos da Bahia e outras cidades que, misturados, dificultavam o trabalho da polícia de identificar quem era fugitivo e quem não era. A associação dos zungus com espaços para refeição também colaborou para que ficassem por muitos anos invisíveis aos olhos da repressão policial, que não enxergavam neles o mesmo perigo com que viam os quilombos. Essa invisibilidade foi fundamental para que os zungus se multiplicassem.

Mercado da praia do Peixe nos anos finais do século XIX. Juan Gutierrez. Museu Histórico Nacional

Nos anos finais da escravidão, os zungus já eram espaços conhecidos e combatidos pela polícia, que chegava a eles por meio de denúncias e realizava batidas para acabar com os “batuques”, levando à prisão escravizados e muitos libertos. Mas isso não era suficiente para que a população negra urbana deixasse de frequentar os zungus, fazendo com que eles existissem mesmo após a abolição.

A Casa da Tia Ciata, que nos anos finais do século XIX atuou como um importante espaço para a difusão do samba e demais manifestações culturais da população negra, para muitos estudiosos, representa uma vertente desses zungus do século XIX.

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