Prata Preta
Durante os conflitos na Revolta da Vacina, bairros do Rio viraram trincheiras de guerra e, ao fim de seis dias, entre as 461 pessoas que foram presas e deportadas, estava um dos mais temidos líderes populares da revolta, o capoeirista Prata Preta.
Prata Preta era o apelido de Horácio José da Silva que, além de capoeira, era estivador. Homem negro, com cerca de 30 anos, liderou as batalhas contra as tropas do Exército no que ficou conhecido como “Porto Artur do bairro da Saúde”, em alusão ao território em disputa na guerra russo-japonesa, ocorrida também em 1904.
As trincheiras da Saúde foram as últimas a serem abatidas. Ali constava haver dinamites e um canhão para impedir o avanço das tropas militares, mas, quando os revoltosos foram rendidos, descobriu-se que os materiais bélicos não passavam de um engodo: as tais dinamites eram pedaços de madeira enrolados em papel prateado, pendurados em volta das trincheiras. O canhão, na verdade, era um dos muitos postes de iluminação derrubados pela população revoltada, em cima de duas rodas de carroça. De longe assustava, mas era incapaz de disparar um tiro sequer!
A submissão do Porto Artur da Saúde se deu em 16 de novembro. No mesmo dia, antes do ataque empreendido pelo Exército e pela Marinha, Prata Preta foi preso em uma emboscada policial. Com sua fama de homem valente, combatia nos lugares mais perigosos das trincheiras e, mesmo na luta final antes de ser capturado, foi acusado de matar um soldado do Exército e ferir dois da Polícia. A essa altura, as atenções estavam voltadas para o que foi “o último reduto do anarquismo”, de acordo com O Paiz. Após decreto de estado de sítio, as barricadas da Saúde – que ocupavam toda a rua da Harmonia – foram atacadas: o Exército avançou por terra, e a Marinha, com o couraçado Deodoro, submeteu os revoltosos pelo mar.
Conforme as tropas avançavam, as trincheiras comandadas por Prata Preta foram abandonadas, e muitos homens foram presos. Sobre o paradeiro de Prata Preta, que enganou as tropas militares com seus “materiais bélicos” improvisados, quase nada se sabe após sua captura e deportação para o Acre.