Marcha da Família com Deus pela Liberdade
No dia 13 de março de 1964, ao mesmo tempo em que o presidente João Goulart assinava os decretos das Reformas de Base – num grande comício ocorrido na Central do Brasil –, as janelas da zona sul carioca se enchiam de velas, em vigília. Para além do gesto religioso, os círios acesos eram um ato político contra o presidente e seu ‘comunismo ateu’.
Nos idos de março, as manifestações conservadoras se intensificaram em todo o país. No Rio de Janeiro, estava marcada para o dia 2 de abril a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Uma passeata que, além de defender o sacro rosário, pretendia clamar às Forças Armadas a derrubada do presidente, libertando o Brasil do ‘perigo comunista’. Mas a manifestação, que prometia ser dramática e apelativa, marchou ao sabor da vitória do golpe militar.
Os ímpetos golpistas do ato cívico foram atendidos às vésperas, entre 31 de março e 1º de abril, quando o general Olímpio Mourão Filho antecipou a conspiração tramada contra Goulart, colocou os tanques na rua e depôs o presidente. Ao som dos sinos da Candelária, onde se deu a concentração da Marcha da Família, o desfile seguiu pela avenida Rio Branco, celebrando a ‘revolução ’vitoriosa.
A cavalaria da Polícia Militar, portando as flâmulas da corporação, abriu o cortejo. Também seguiam à frente as principais responsáveis pela organização da passeata: as líderes da Campanha da Mulher pela Democracia, grupo formado por mulheres ligadas à elite empresarial e ao alto clero carioca. Atrás, uma massa de aproximadamente 800 mil pessoas, na maior manifestação de rua da história até então.
Dado seu caráter comemorativo, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi chamada pela imprensa de Marcha da Vitória. Seu volume impressionante foi entendido pelos golpistas como o aval civil para a consolidação de um novo governo,o que ocorreria dias depois, com a posse do general Humberto Castelo Branco como presidente do Brasil – dando início à Ditadura Militar que duraria 21 anos.
Este texto foi elaborado pelo pesquisador Davi Aroeira Kacowicz. do Projeto República (UFMG).
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