Campanha Civilista
Em 1909, ano de eleição presidencial, a temperatura política na jovem República estava nas alturas. De um lado, os militaristas (ou ‘hermistas’), partidários do marechal Hermes da Fonseca, candidato da situação. De outro, os civilistas, em favor da “restauração da ordem civil”. Seu candidato era o senador baiano Rui Barbosa – jurista, diplomata e coautor da primeira constituição republicana. Apoiado pelo Partido Republicano Paulista (PRP), ele foi escolhido em uma convenção que lotou o auditório do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Intelectual respeitado e liberal histórico, Rui Barbosa protagonizou a primeira campanha presidencial da história do Brasil. Com uma retórica antioligárquica que agradava a setores urbanos, o candidato civilista percorreu cidades, encontrou-se com lideranças locais e fez promessas a eleitores nas ruas.
Era a primeira vez que o país assistia a uma disputa eleitoral entre projetos políticos concorrentes. Das exaltadas polêmicas em cafés da rua do Ouvidor às grandes passeatas e comícios – os meetings –, a imprensa dava o tom do debate público. Para jornais ‘hermistas’, Rui Barbosa era uma espécie de Lutero baiano, o agente provocador de todo aquele cisma na outrora pacata política nacional.
Apesar de todos os esforços da Campanha Civilista, a votação do dia 1º de março de 1910 provou a força da máquina federal e elegeu Hermes da Fonseca, terceiro militar entre os seis primeiros presidentes do Brasil. Mas a diferença de votos foi a mais apertada desde o início da República. No Rio de Janeiro, Rui Barbosa venceu com 67% dos votos. O abalo da oposição provocou uma notável fissura no alicerce da conciliação oligárquica. Depois disso, o arranjo político da Primeira República nunca mais seria o mesmo.
Este texto foi elaborado pelo pesquisador Danilo Marques do Projeto República (UFMG).