A arquitetura do poder
Depois do delírio modernista na década de 1920, veio a crise de 1929 e, a seguir, a Revolução de 1930; com ela, Getúlio Vargas. A novidade agora era a tentativa de incorporar à cidade parte dos segmentos populares excluídos anteriormente por meio de políticas sociais corporativas. O objetivo era evitar que o movimento social e a esquerda assumissem o controle das ruas, e, para isso, toda a capacidade repressiva do Estado seria usada, assim como a dimensão do nacionalismo populista.
Mas Vargas também expandiu a cidade em direção à baixada da Guanabara, abrindo uma nova avenida chamada Brasil (nos anos 1940). Essa ação aproximou a cidade do seu entorno, aumentando a oferta de postos de trabalho na economia e na burocracia do Estado. As camadas médias também foram contempladas, usufruindo da política de educação que valorizou as escolas normais e os professores.
A cidade, no entanto, precisava assumir, através da arquitetura, a materialidade desse novo tempo, que foi reproduzida pelas edificações monumentais dos prédios dos ministérios da Fazenda e do Trabalho.
A política social varguista produziu uma feição nova para o Rio – principalmente, no segundo mandato -, marcada pela separação entre as zonas norte e sul. Os sindicatos e os institutos ocuparam as margens da cidade, mobilizando capital e trabalho. O regimento de intervenção produziu mudanças e alterou as paisagens, às vezes de forma paradoxal, como no caso dos parques proletários na Gávea, na década de 1940, e da ocupação do Jardim de Alá pelo Sindicato dos Jornalistas, na década de 1950.
Essas mudanças merecem atenção, porque afetaram a zona sul, que ficou em compasso de espera frente à valorização das classes operárias patrocinada pela política de Vargas. O ideal de trabalho e de trabalhador como expressão do novo tempo geraram efeitos e modificaram a correlação de forças na sociedade carioca.
A conjuntura política também se modificou, e o fim do Estado Novo abriu caminho para a redemocratização em 1945. Mas a entrada do marechal Dutra no comando do Estado manteve a perspectiva moralizante do seu antecessor quanto à vida urbana, o que resultou no fechamento dos cassinos e na proibição do jogo de azar.