A Esplanada do Castelo e o Palácio Capanema

No quadrilátero formado pela rua São José e pelas avenidas Antônio Carlos, Beira-Mar e Graça Aranha, estão traços da arquitetura moderna e da vida política e social do Rio de Janeiro, nos anos 1930 e 1940. Mas também estão os paradoxos e as contradições da sua modernização. O morro do Castelo, desmontado nos anos 1920, atua como um fantasma que assombra a cidade e está presente nos declives da avenida Nilo Peçanha na direção da Rio Branco, no posicionamento da Igreja de Santa Luzia na paisagem, no declive que liga a Antônio Carlos à Praça XV e no trecho da ladeira da Misericórdia que permaneceu.

Nesse pedaço do Centro, há um conjunto de símbolos que, em outras épocas, criaram disputas, como a de Le Corbusier e Agache, a monumentalidade enfrentando as tradições republicanas da cidade. O Palácio Capanema é o exemplar mais significativo da arquitetura moderna brasileira de influência de Le Corbusier. Prédio original do Ministério da Educação e Saúde Pública, criado por Getúlio Vargas e com inspiração de um modernismo diferente daquele anunciado por Agache, a leveza e a concisão de suas formas iam contra o peso da ocupação total do terreno e das características artísticas das Belas Artes. Quando Gustavo Capanema assumiu a pasta, em 1934, expressou a Vargas a necessidade de um prédio para o ministério – que vivia instalado ou na Câmara dos Vereadores ou em salas do edifício Rex – e foi atendido por conta da doação que o prefeito Pedro Ernesto fez de um terreno no grande espaço decorrente do desmonte do morro do Castelo.

Então, Capanema abriu um concurso para escolha de projeto, com um edital que incluía a perspectiva de diálogo com o novo tempo e com o modernismo. O júri, presidido pelo próprio, mas sem direito a voto, foi formado por profissionais da Escola Nacional de Belas Artes, que, à época, ainda tinha um curso de arquitetura. O projeto vencedor foi o projeto Pax de Archimedes Memória, diretor da Escola Nacional de Belas Artes e autor dos projetos do Palácio Tiradentes e do Palácio Pedro Ernesto. Porém, tanto o ministro como muitos de seus colaboradores, alinhados aos ideais modernistas, não viram coerência entre o programa inovador que pretendia implementar à frente do ministério e o projeto de Archimedes, que tinha um visual retrógrado mesclando o estilo neoclássico a elementos decorativos marajoaras.

Projeto Pax, de Archimedes Memória, 1º colocado no concurso realizado pelo ministro Gustavo Capanema em 1935. Site Cronologia do Pensamento Urbanístico

O resultado foi aceito, Capanema pagou o prêmio e desprezou o projeto. Em seguida, convocou Lúcio Costa, autoridade reconhecida como arquiteto, que não aceitou fazer o projeto sozinho e propôs a formação de uma equipe integrada por Carlos Leão, Affonso Reidy, Jorge Moreira, Ernani Vasconcellos e Oscar Niemeyer, todos formados na Escola Nacional de Belas Artes. A fim de conferir maior legitimidade ao projeto, convidou Le Corbusier para prestar consultoria e ministrar palestras ao grupo.

No centro da imagem, Le Corbusier e Lúcio Costa. Acervo Arquivo Nacional

As inovações arquitetônicas ficaram por conta da fachada envidraçada (curtain wall), das lâminas horizontais móveis (brise-soleil) que protegem o interior do prédio da incidência de luz solar, criada por Le Corbusier, da criação dos terraços-jardins e do térreo com pilotis. O paisagismo de Roberto Burle Marx, os afrescos de Candido Portinari e as esculturas de Celso Antônio de Menezes e Adriana Janacópulos deram o caráter nacional ao Palácio.

Proposta de Le Corbusier para o edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde Pública, 1936. Site Cronologia do Pensamento Urbanístico

Tombado em 1948, já abrigou a sede do Iphan e do Ministério da Cultura (MinC). Em 2016, o presidente Michel Temer tentou extinguir esse último, mas manifestantes ocuparam o prédio até a revogação do ato. Infelizmente, em 2019, o governo Bolsonaro conseguiu levar a cabo a pretensão de Temer, rebaixando-o à condição de secretaria e subordinado ao Ministério do Turismo.

Dentro do Palácio Capanema, funciona o Centro Lúcio Costa. Fonte: Portal Iphan

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