Voo Livre

‘Inventada’ pelo australiano John Dickenson no início dos anos 1960, a asa-delta chegou ao Brasil uma década depois. Mais especificamente no Rio de Janeiro, onde o Cristo Redentor recebeu de braços abertos o primeiro voo livre registrado em céus brasileiros. Acompanhado pelas câmeras da TV Globo, o francês Stephan Segonzac decolou em 12 de setembro de 1974 do Corcovado e pousou no Jockey Club, no Jardim Botânico.  

Vejam as impressionantes imagens no vídeo abaixo: 

A partir do salto do Corcovado, dois cariocas se interessaram pelo voo livre e, junto com Stephan Segonzac, buscaram um lugar adequado para as aulas. O terreno encontrado pertencia àquele que viria a ser o pioneiro do esporte no Brasil, Luis Cláudio Mattos: um kartódromo com um morrinho no meio, ideal para a aprendizagem do voo livre. Os dois primeiros interessados acabaram desistindo, mas Luis Cláudio persistiu e fez seu primeiro voo de asa-delta saltando da Pedra da Agulhinha. Pouco depois, ele construiu uma rampa no local, que ficou conhecida como Rampa Antiga ou Rampa das Margaridas. O piloto carioca foi também o precursor do voo duplo no país, prática muito popular ainda hoje.

Voo livre em São Conrado na década de 1970. Fonte: reportagem Veja Rio de 06/10/2017

Em pouco tempo, o número de praticantes em céus cariocas aumentou exponencialmente. Em 1975, aconteceu o primeiro Campeonato Brasileiro de Voo Livre. Um dos nomes mais importantes da modalidade no Brasil foi o carioca Pedro Paulo Lopes, mais conhecido como Pepê. Esportista de muitos talentos, além de piloto de asa-delta foi também campeão de surfe e praticante de hipismo. Em 1981, Pepê ganhou o Campeonato Mundial de Voo Livre no Japão, país onde dez anos depois, com apenas 33 anos de idade, sofreu um acidente fatal. A tragédia ocorreu durante um campeonato internacional em Wakayama, realizado em condições climáticas bastante adversas.  

O Brasil seria campeão mundial mais uma vez em 1999, em Monte Cucco (Itália), conquistando o ouro por equipes. No mesmo campeonato, os pilotos André Wolf e Pedro Matos garantiram as medalhas de prata e bronze no pódio individual. A equipe de ouro era formada por seis pilotos, sendo quatro cariocas: Pedro Matos, Guga Saldanha, Luizinho e Carlinhos Niemeyer. O campeão Pedro Matos nos conta esta e muitas outras conquistas: 

O Brasil foi vice-campeão nos campeonatos mundiais de 2001 e 2003 e, depois, ficou 16 anos sem subir ao pódio. O jejum de títulos só foi quebrado em 2019, quando a equipe brasileira conquistou a medalha de prata na região de Tolmezzo, na Itália. 

O Rio de Janeiro continua sendo uma das principais cidades brasileiras para a prática da asa-delta e a recordista em voos duplos. A rampa da Pedra Bonita, em São Conrado, recebe dezenas de pessoas diariamente e é uma das mais famosas do Brasil. Como todo esporte radical, o voo livre oferece perigos que podem ser letais, mas seus praticantes assumem os riscos em troca da sensação de liberdade e da possibilidade de sobrevoar uma das paisagens mais belas do mundo, que só mesmo o Rio tem a oferecer.

Foto de Filipo Tardim. Site Jornalistas que correm

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