“Do Leme ao Pontal não há nada igual”, cantava Tim Maia nos anos 1980, louvando a beleza da orla do Rio de Janeiro, ainda mais impressionante se admirada do mar. A combinação da paisagem estonteante com a vasta faixa de oceano levou a cidade a ser o berço da natação no Brasil. Seja para dar umas braçadas despretensiosas ou para atravessar os 36km a nado entre as praias do Leme e do Pontal (maratona aquática), o esporte é ainda hoje um dos mais praticados pelos cariocas.
A natação como esporte surgiu no país em fins do século XIX, na Baía de Guanabara. Da Ilha do Governador à Enseada de Botafogo, era nas águas da Baía que os cariocas tomavam seus banhos de mar – desde 1810, ao menos, quando apenas os banhos profiláticos eram recomendados. A partir de 1850, incentivados pela maior adesão da população carioca aos banhos de mar como lazer, alguns clubes de banho passaram a oferecer aulas para os sócios que quisessem aprender a nadar e ganhar mais autonomia em águas abertas.
A edição do jornal “O Paiz” de 14 de fevereiro de 1896 afirmava: “está iniciado um gênero de sport higiênico, salutar e, sobretudo, utilíssimo”. O cronista relatava um evento ocorrido no dia anterior, um marco do surgimento da natação como esporte organizado no Rio e no Brasil: a inauguração do Clube de Natação.
Algumas provas já haviam acontecido em águas brasileiras, como as travessias de Niterói ao Rio de Janeiro organizadas pelo Clube de Boiton, fundado em 1877. Porém, foi o Clube de Natação que realizou as primeiras competições da modalidade, entre elas o Campeonato Brasileiro de 1898, uma prova de 1.500 metros para homens, sem estilo definido, com saída do Forte de Villegagnon e chegada na Praia de Santa Luzia.
O Brasil compete nas provas de natação desde sua estreia em Jogos Olímpicos, em 1920, mas a primeira piscina olímpica do país só seria inaugurada em 1935, na sede do Clube de Regatas Guanabara, em Botafogo. Com a chegada das piscinas, a natação foi se desenvolvendo e popularizando no país. Suas diversas modalidades vão desde os 50 metros livres em piscina até as maratonas aquáticas em mar aberto, como a travessia entre o Leme (Zona Sul) e o Pontal (Zona Oeste), a maior do Brasil. A primeira mulher a concluir o percurso foi a carioca Patrícia Farias de França, em 10 horas e 22 minutos, em maio de 2016.
Um dos maiores expoentes da natação brasileira foi a nadadora paulista Maria Lenk, que dá nome a um parque aquático na Barra da Tijuca. Ela foi a primeira sul-americana a participar de uma olimpíada (1932, em Los Angeles) e entrou para a história do esporte ao introduzir, nos Jogos de Berlim (1936), o que hoje é conhecido como nado borboleta. A atleta foi, também, a primeira mulher diretora da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, fundada em 1939).
A primeira medalha olímpica que a natação trouxe para o Brasil foi um bronze em Helsinque (1952), conquistado por Tetsuo Okamoto nos 1.500 metros livres. Já o primeiro lugar no pódio veio com César Cielo, nos 50 metros livres dos Jogos de Pequim, em 2008. Nadadores como Gustavo Borges, Edvaldo Valério e Fernando Scherer já haviam ganhado bronze e prata, colocando o país entre os grandes da natação olímpica, com 13 medalhas conquistadas. Em 2016, nos Jogos do Rio, Poliana Okimoto levou o bronze e a primeira medalha da natação feminina na maratona aquática – 10 quilômetros em mar aberto, na Praia de Copacabana.