Escadaria Selarón: mosaico de arte, história e cultura popular
Com seus 215 degraus coloridos e vibrantes, a escadaria que liga o Convento de Santa Teresa à Lapa deixou de ser um mero caminho de subida e descida para se tornar um dos pontos mais visitados do Rio de Janeiro, além de símbolo da paixão e dedicação do seu criador – o artista chileno Jorge Selarón. Selarón encontrou no Rio não apenas um lar, mas também uma tela para suas expressões mais genuínas.
Essa história começa nos anos 1990, quando Selarón começou a renovar a escadaria que passava em frente à sua casa. Com um balde de cimento na mão, dinheiro do próprio bolso e azulejos coloridos, o chileno deu início ao projeto, com objetivo de gerar transformação e resgatar a dignidade daquela área, que se encontrava em péssimo estado de conservação. Com o passar do tempo, o trabalho evoluiu de uma simples renovação para uma intervenção artística exuberante e contínua, pois diferentes pessoas passaram a doar azulejos.
Um dos elementos que torna a escadaria única é o uso de mais de 2 mil azulejos coloridos de diversas origens – além dos que o próprio artista pintou à mão, há peças doadas de mais de 60 países! Essa variedade de padrões e cores, com destaque para o verde e o amarelo, cria um mosaico impressionante, que simboliza a diversidade cultural do Brasil e do mundo. O fundo vermelho faz as vezes de moldura e cada degrau é uma obra à parte que conta diferentes histórias: seja através dos azulejos com bandeiras dos países, ou de mensagens deixadas por visitantes de diferentes lugares. É possível passar horas observando os detalhes de cada cantinho das escadas.
Por conta de seu caráter artístico, a escadaria tornou-se um ícone carioca, ocupando o terceiro lugar entre os mais visitados da cidade. O local, que atrai moradores e turistas, amplia a atmosfera vibrante da Lapa, um dos bairros mais boêmios e democráticos do Rio. Festivais, eventos culturais, clipes de ícones da música internacional e até mesmo filmes foram realizados nesse cenário, consolidando a escadaria como um ponto de encontro e um cartão-postal do Rio de Janeiro.
A escadaria desempenha papel importantíssimo na preservação de identidades e da cultura popular. Há, em seus degraus, representações que tratam sobre os povos originários da América, africanos e orientais, resgatando e evidenciando histórias que precisam ser contadas, recontadas e ecoadas. A escadaria é a demonstração de que arte pode e deve ser pública, acessível e representativa para todas as pessoas. É também uma mostra de seu poder transformador.
Nas palavras de seu criador, “a escada […] nunca vai ficar pronta. Ela vai ficar pronta no dia da minha morte, quando eu mesmo me transformar na própria escada. Assim ficarei eterno para sempre”. Em 2013, Selarón foi encontrado morto próximo à sua residência, justamente na escadaria, em circunstâncias que envolvem especulações — seu corpo carbonizado reforça o forte indício de assassinato. Esse evento trágico adiciona uma camada um tanto intrigante a essa história, mas acaba reforçando a atmosfera mística do local.
Hoje, a Escadaria Selarón é, sobretudo, um local de encontro e, ao seu redor, estão muitos restaurantes, bares e espaços artísticos, que fazem a região ser ainda mais atraente. Sua presença no coração do Rio de Janeiro continua a inspirar, conectar e encantar, perpetuando a memória e o legado artístico de Jorge Selarón.