Urbanidade, fé e riqueza

“É interessante observar que nas construções mais antigas do século XVII, especialmente as de ordens religiosas como a de São Bento, as torres guardam o aspecto básico de fortaleza […]. Já no século XVIII, à função de suporte dos sinos agrega-se o valor simbólico de sinal externo de riqueza e prestígio das irmandades proprietárias, traduzido em sua maior altura e na ornamentação apurada dos coroamentos.”
(Myriam Ribeiro e Fátima Justiniano. Barroco e Rococó nas igrejas do Rio de Janeiro)

Nos primeiros séculos de colonização, a arquitetura voltada para a proteção deu o tom da urbanidade do Rio de Janeiro e, se as fortalezas instaladas no litoral tinham o objetivo de proteger a cidade contra invasões, as igrejas e mosteiros do século XVI – e algumas do início do XVII – cumpriam a função de “proteger os espíritos”, muitas vezes funcionando, elas próprias, como equipamentos de fortificação da cidade. 

Fortaleza de Santa Cruz da Barra, localizada na orla de Niterói da Baía de Guanabara e erguida no século XVI. Marc Ferrez, c. 1890. Instituto Moreira Salles

No século XVI, o Maneirismo – estilo transitório entre o neoclássico e o barroco – marcou a arquitetura de algumas construções da cidade. Mas foi o Barroco que, no século XVII, se tornou o grande legado arquitetônico do Rio de Janeiro.

Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso vista da Ladeira da Misericórdia. A predominância da construção, do século XVI, é o Barroco. Wikimedia Commons

No século XVIII, a incorporação da talha joanina, da pintura em perspectiva e das plantas poligonais e curvilíneas das igrejas – técnicas importadas da Itália que revolucionaram o Barroco português – se disseminaram também na arquitetura civil. Essas transformações fizeram da cidade um “modelo” e criaram as condições para que o estilo do Rio de Janeiro se espalhasse pelo restante da colônia, especialmente para as Minas Gerais. 

Nesse ambiente, as Ordens religiosas ocuparam um lugar especial. Recebendo doações de terras dos chamados “homens bons” – ou seja, membros da elite político financeira da colônia –, construíram e habitaram as igrejas e conventos cariocas nos pontos mais antigos da cidade. Os primeiros a chegar foram os jesuítas – junto aos fundadores da cidade em 1565 –, e ocuparam o Morro do Castelo. Em seguida, vieram os carmelitas, que se instalaram no Largo do Carmo por volta de 1590; os beneditinos, que chegaram ao Rio de Janeiro em 1589 e instalaram no Morro de São Bento em 1590; e os franciscanos, que ocuparam o Morro de Santo Antônio em 1615.

Convento de Santo Antônio. Desenho de Pieter Gotfred Bertichen, 1856 – Coleção Brasiliana Itaú

Também se constituíram na cidade barroca as ordens terceiras formadas por leigos. Inicialmente, eram três: a Venerável Ordem de São Francisco da Penitência, a Venerável Ordem de Nossa Senhora do Carmo e a Venerável Ordem de São Francisco de Paula, todas alimentadas pela riqueza e pela devoção dos homens bons da cidade.

Interior da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência.  Wikimedia Commons

Referências: 

CUSTÓDIO, José A. C. A arquitetura de defesa no Brasil Colonial. Discursos fotográficos, Londrina, v.7, n.10, p.173-194, jan./jun. 2011

OLIVEIRA, Myriam A. R. JUSTINIANO, Fátima. Barroco e Rococó nas igrejas do Rio de Janeiro. Brasília, DF: IPHAN / Programa Monumenta, 2008.

PEREIRA, Sónia Gomes. A Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro: dois momentos cruciais da arquitetura brasileira – a obra colonial e a reforma do século XIX. In: FERREIRA-ALVES, Natália M. A Misericórdia de Vila Real e as Misericórdias no Mundo de Expressão Portuguesa. CEPESE – Centro De Estudos Da População, Economia e Sociedade, 2011.

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