Revolta da Chibata
No início do século XX, era comum a Marinha brasileira usar castigo físico para punir militares de baixa patente, basicamente negros e pobres. Mas um grupo de marinheiros do Rio de Janeiro se levantou contra o Estado, exigindo o fim dos castigos corporais e melhores condições de trabalho. Liderada por João Cândido, a Revolta da Chibata teve início em 22 de novembro de 1910.
Na semana anterior, embarcações nacionais e estrangeiras aportaram na baía de Guanabara para saudar a posse do presidente Hermes da Fonseca. Um incidente, porém, colocou fim às comemorações. O marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes recebeu como punição 250 chibatadas, na frente de toda a tripulação. Na noite do dia 22 de novembro, mais de dois mil marinheiros subalternos assumiram o comando de quatro navios de guerra e acionaram seus canhões contra a cidade. Com tiros de advertência, deram um ultimato ao governo: ou cessavam os castigos corporais na Marinha ou bombardeariam a capital federal.
Parte da imprensa e alguns parlamentares foram simpáticos ao movimento, pressionando o governo a aceitar as reivindicações. Hermes da Fonseca declarou o fim dos castigos e a anistia dos revoltosos. Entretanto, dias depois, o presidente voltou atrás e cancelou a anistia de parte dos rebelados, resultando em expulsões e prisões de marujos.
Um levante pouco conhecido aconteceu duas semanas depois, em 9 de dezembro, partindo do Batalhão Naval da Ilha das Cobras – sem a participação dos antigos rebeldes. Dessa vez, gerou uma retaliação mais rápida e mais violenta por parte do alto escalão da Marinha. Com o bombardeio da ilha, a revolta foi rapidamente suprimida, deixando dezenas de mortos e centenas de feridos.
Alguns anistiados da Revolta da Chibata foram acusados de participação no novo levante. Além de 600 presos, 1.216 rebeldes foram expulsos da Marinha e 105 foram obrigados a embarcar nos porões do navio Satélite, rumo à Amazônia, para trabalhos forçados na produção de borracha. Dos embarcados, 14 nunca chegaram ao destino, sendo fuzilados durante a viagem e tendo seus corpos jogados ao mar. Entre os 22 encarcerados na fortaleza da ilha das Cobras, apenas dois sobreviveram às péssimas condições das celas: João Avelino e João Cândido, apelidado de “Almirante Negro” pelos jornais locais.
Este texto foi elaborado pelas pesquisadoras Helena Gomes e Júlia Kern Castro do Projeto República (UFMG).