O Remo e os trabalhadores do Rio
No início do século XIX, a população do Rio de Janeiro tinha uma relação com o mar muito diferente dos dias atuais. Foi em meados do século que o vínculo entre os cariocas e a praia foi construído, conforme a política sanitária avançava, somada ao incentivo da medicina aos banhos de mar como medida profilática. Com o avançar dos anos, as praias passaram a ser cada vez mais frequentadas pela população em busca de lazer e práticas saudáveis.
Foi no contexto de maior preocupação com a saúde que os esportes náuticos, introduzidos no país por imigrantes ingleses, adentraram a então capital e fizeram adeptos não só entre as elites, mas também entre os trabalhadores.
Ainda que a maioria das práticas esportivas ficassem, quase sempre, restritas às elites, as camadas populares também tinham sua parcela de envolvimento. Não sem a oposição dos mais abastados: no caso do remo, logo que o esporte se popularizou, as elites buscaram novos meios para fazer prevalecer seus interesses, determinando quais práticas seriam consideradas positivas e quais seriam vistas como negativas.
As atividades que mais envolviam a população pobre eram as apostas – consideradas “imorais” pela alta sociedade. Diversas tentativas de regulamentação do remo foram criadas, na tentativa de banir as apostas das competições de regatas. A partir de 1880 surgem diversos clubes náuticos, que passaram a promover competições com a participação das camadas populares – nas equipes e nas plateias -, como o Club de Regatas Paquetá (em 1884), o Club de Regatas Fluminense (em 1892), o Club de Regatas Botafogo (em 01/07/1894) e o Club de Regatas Boqueirão do Passeio (em 21/04/1897).
Em 31 de julho de 1897 foi criada a União de Regatas Fluminense, instituição responsável por regulamentar e organizar as regatas, estipulando uma série de códigos e regras que restringiram ainda mais o acesso ao esporte.
Em agosto de 1898 o Clube de Regatas Vasco da Gama foi fundado e, no mesmo ano, o clube criou a primeira escola de remo da cidade do Rio de Janeiro, com aulas à noite para os associados que, em sua maioria, eram funcionários do comércio do centro. A inserção de trabalhadores entre os associados do clube popularizou, de certa forma, o acesso ao esporte, já que as demais agremiações controladas pela União de Regatas Fluminense geralmente tinham estatutos bastante restritivos. Outra inovação do Vasco da Gama foi a inserção, entre os remadores, de atletas negros, algo até então inexistente no esporte.
Por outro lado, as elites buscavam novos meios de consolidar seu acesso privilegiado às competições de remo, fato que pode ser observado na construção do Pavilhão de Regatas, em 1905, pelo então prefeito Pereira Passos. O local, contendo os melhores assentos com vista de frente para a chegada das regatas, possuía acomodações luxuosas que garantiam o conforto das classes abastadas e representavam um símbolo de status e distinção social.