Do mé ao café: o botequim na vida dos trabalhadores do Rio de Janeiro

Presentes na cidade desde o início da colonização – ainda que com nomes e organizações diferentes, ao longo do tempo -, espaços como quiosques, bares e botequins sempre serviram como locais para conversar e beber. Com o desenvolvimento das fábricas, essa relação se intensificou e o botequim é, desde meados do século XIX, o lugar de encontro do final de turno de muitos trabalhadores cariocas, principalmente a partir do início da República.

O atual Largo de São Francisco de Paula (antigo Largo da Sé), com os quiosques que vendiam cachaça, café, bolos e fumo, muito comuns na cidade na época. Foto de Augusto Malta – Acervo Instituto Moreira Salles

As manifestações e protestos de trabalhadores das fábricas marcam os anos iniciais do regime republicano no Brasil. As lutas políticas e sociais faziam parte do cotidiano de trabalhadores nacionais e estrangeiros, brancos e negros. Esses últimos foram os mais prejudicados pelo ideal de República que não apenas os marginalizava como, ainda mais grave, os repreendia por quaisquer condutas que se julgassem “incivilizadas”.

A fim de controlar o comportamento dos trabalhadores e garantir a higienização e a civilização pretendida da cidade, as ferramentas de repressão sobre os operários foram bastante aplicadas nos mais diversos espaços – inclusive os de sociabilidade. No Artigo 396 do Capítulo XII do Código Penal de 1890, o hábito de beber era passível de prisão por até um mês. A lei entrava em conflito direto com a opção de lazer dos trabalhadores formais – o operariado em geral – e informais – catraieiros, selistas, caçadores etc – que costumavam se reunir em botequins e quiosques para beber e conversar, o que podia ser interpretado como crime pelas autoridades.

O controle republicano das classes menos abastadas se dava pela linha tênue entre a liberação para relaxar após o trabalho e a repressão para evitar revoltas políticas. Com um discurso pretensamente progressista de higienização da cidade, o cerco aos quiosques e botequins passou a ser comum principalmente nos primeiros anos do século XX.

Quiosque no Largo do Depósito, atual Praça dos Estivadores, na zona portuária. Foto de Augusto Malta – Acervo Instituto Moreira Salles

Os quiosques eram alvo das maiores críticas: espaços pequenos que acomodavam apenas o proprietário no interior, seus frequentadores ocupavam as ruas, o que, para o ímpeto sanitarista do período, era abominável. Tanto que, durante a gestão Pereira Passos, alguns homens da elite econômica resolveram atear fogo a diversos quiosques do centro da cidade, a fim de acabar com o que os incomodava.

Os botequins foram menos prejudicados, uma vez que comportavam seus clientes no interior, garantindo a aparência “civilizada” para a então capital federal. Além disso, os botequins não vendiam apenas bebidas alcoólicas, mas também gêneros alimentícios, o que pode ter inibido a repressão.

Bar Nacional, s/d. Os bares e botequins foram menos perseguidos do que os quiosques. Acervo: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

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