O carnaval depois da gripe espanhola

Ao final de 1918, o Rio contabilizava mais de 15 mil mortos pela Gripe Espanhola. “Suas ruas se tornaram palco de cenas macabras, com cadáveres espalhados pelas calçadas, sendo recolhidos por caminhões como sacos de lixo. Segundo Carlos Heitor Cony, ‘O sujeito começava a atravessar a rua na vertical, em gozo de saúde exemplar, chegava na outra calçada na horizontal, fulminado pela Gripe.’”

Nos dois primeiros meses de 1919, “houve um intervalo para chorar os mortos e tentar restaurar alguma normalidade no Rio. Então, em 1º de março, explodiu o Carnaval da ressurreição.” O armistício da 1º Guerra Mundial aliado ao fim da Gripe Espanhola deram aos sobreviventes da epidemia muitos motivos para celebrar.

Desfile dos Democráticos nas ruas do Rio em 1919. Revista Careta – Biblioteca Nacional

Ainda não existiam as escolas de samba. Havia blocos, cordões, ranchos, corsos e as chamadas grandes sociedades, que desfilavam em grandes carros alegóricos. Em 1919, escolheram a doença como tema: “os Fenianos exibiram um carro com caveiras que representavam a ‘dançarina espanhola’, cercada de pierrôs, arlequins e colombinas. Já os Democráticos apresentaram uma grande xícara com a inscrição ‘chá da meia-noite’, referência à bebida mortal que, dizia-se, era servida aos desenganados para acelerar o adeus.”

O “chá da meia-noite” no carnaval de 1919. Biblioteca Nacional

Logo após a devastação da Gripe chegou o desejo de espiar a tristeza e as pessoas passaram a fazer, pensar e sentir coisas inéditas e até mesmo “demoníacas”. “Entre batalhas de confete e borrifadas de lança-perfume, os cariocas concebiam os ‘filhos do Carnaval’, que nasceriam em novembro e dezembro.” A esbórnia foi total. Na delegacia do Catete, que cobria a rua Santo Amaro, onde funcionava o High Life, registraram-se 2.000 casos de “defloramento”!

Gazeta de Notícias – capa da edição de 2 de março de 1919. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

“Era ilustrativa do momento a pornográfica ‘Marcha do Racha-Lenha’, na qual os homens diziam: ‘Na minha casa não se racha lenha’. ‘Na minha racha, na minha racha’, respondiam as mulheres, que acrescentavam: ‘Na minha casa não se pica fumo’. A réplica era a que imagina o leitor.”

Parecia inacreditável que o palco de tamanha euforia era o mesmo da tragédia epidêmica que tantos mortos havia enterrado.

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