Influenza A (H1N1): a primeira pandemia do século XXI

Em 11 de junho de 2009, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a propagação da influenza A – doença respiratória causada pelo vírus H1N1 e transmitida através do contato de secreções respiratórias – a primeira pandemia do século XXI. A enfermidade também foi chamada de “gripe suína”, especialmente após cientistas canadenses e norte-americanos confirmarem que o vírus havia se originado em porcos, possivelmente no México.

No final de abril de 2009, o Brasil registrou os primeiros casos suspeitos de influenza A. Logo no dia seguinte, cinco aeroportos internacionais do país, dentre eles o Aeroporto Internacional Tom Jobim – o Galeão, do Rio –, passaram a emitir avisos sonoros sobre sinais e sintomas da nova enfermidade ao receber voos procedentes do México e dos Estados Unidos, enquanto equipes técnicas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avaliavam clinicamente os tripulantes desembarcados dessas aeronaves.

Manchete do jornal O Globo – 30 de abril de 2009. Marco Antônio Cavalcanti. Agência O Globo

Essas barreiras sanitárias foram mantidas nos aeroportos internacionais brasileiros após o Ministério da Saúde confirmar, no dia 7 de maio, os quatro primeiros casos no Brasil; dois deles em território fluminense. No dia seguinte, o país conhecia o sexto caso de contaminação por H1N1, e também o primeiro de transmissão comunitária. O paciente era um carioca que entrou em contato com um conhecido contaminado após viagem ao México.

No final de junho, uma grande mineradora fechou um dos andares de seu prédio no Rio de Janeiro e isolou, em regime de quarentena doméstica, 90 funcionários após a confirmação de que um de seus empregados havia testado positivo para o novo vírus gripal. Entre abril e dezembro, considerado o período de pico da pandemia na cidade, a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio recebeu cerca de cinco mil notificações de suspeitas de contaminação pelo H1N1. Destas, 1.823 foram confirmadas por testes laboratoriais ou clínicos, enquanto 89 enfermos vieram a óbito por complicações da influenza.

Charge sobre a Gripe Suína. Publicada em 11/05/2016 por Gilmar no site Gilmar Online

Como seria de se esperar, esses dados tiveram grande repercussão na opinião pública carioca e diversas medidas de contenção ao avanço do H1N1 passaram a ser adotadas na cidade. Cariocas e turistas, ainda que em pequeno número, passaram a ser vistos trajando máscaras faciais em espaços públicos. Instituições particulares de ensino do Rio de Janeiro decidiram adiar o retorno às aulas em agosto, e até a Turma da Mônica, de Maurício de Souza, protagonizou uma campanha, em formato audiovisual, dedicada a difundir medidas preventivas contra a propagação da influenza A no país. 

Rio de Janeiro, 27/06/2009. Foto de Xavier Donat. Flickr Xavier Donat

Tão rápidos quanto a proliferação do novo vírus foram também os institutos de pesquisa e ciência do país. Ainda em maio de 2009, técnicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sediada no Rio, conseguiram mapear as sequências genéticas do H1N1 em amostras coletadas em quatro pacientes, dois deles cariocas. Em dezembro, concluíram os ensaios clínicos de uma vacina que começou a ser aplicada nacionalmente em março de 2010. 

Campanha Nacional de Vacinação contra H1N1, 20 de março de 2020. Autor: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Houve aqueles que difundiram, sobretudo no ambiente virtual, boatos de que a nova vacina continha substâncias tóxicas, podendo causar má formação fetal e distúrbio mental em crianças. No entanto, desde aquele primeiro semestre de 2010, a vacina contra influenza A tornou-se parte do calendário nacional de vacinação, contribuindo, assim, para que a propagação do vírus fosse contida.

É lamentável pensar que a experiência com a COVID 19 tenha sido tão diferente.

Este texto foi elaborado pelos pesquisadores Juliana de Souza Soares e Marcus Vinícius Costa Lage do Projeto República (UFMG).

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