A grande epidemia de cólera (1855-1856)

1, 2 Identificação – Tom Zé

Conhecida pela humanidade desde a Idade Média, foi nas primeiras décadas do século XIX que a cólera se tornou, de fato, uma pandemia. Saindo do Oriente Médio e alcançando a Europa ocidental, atingiu as Ilhas britânicas e, de lá, foi levada por imigrantes para a América do Norte, se espalhando por quase todos os cantos do mundo. 

O Brasil só conheceu a doença em sua terceira onda global, ocorrida em 1855.  Por aqui a cólera aportou primeiro no Pará, no início do ano, trazida por navios vindos de Portugal, e ganhou rapidamente várias cidades litorâneas. Em agosto, chegou ao Rio de Janeiro. 

Identificado como o primeiro sintomático à época, um escravizado que estava a bordo do vapor São Salvador, que chegou à capital do Império em julho de 1855, foi logo levado à Santa Casa de Misericórdia. Esse primeiro doente – que se salvou – foi acompanhado de outros tantos que se multiplicaram pela faixa litorânea e manguezais, apesar dos cordões sanitários adotados pelo governo local.

O Rio já conhecia uma epidemia que havia chamado a atenção do governo cinco anos antes. Após o surto de febre amarela na corte, por volta de 1849, foi criada a Junta de Higiene Pública, em 1850, marcando uma mudança do papel do Estado em relação à saúde pública. Até então, a população mais vulnerável e que mais padecia nas epidemias – que a partir de meados do século XIX começaram a ser cíclicas – era acolhida no Hospital da Santa Casa de Misericórdia, uma instituição de caridade. 

Hospital da Santa Casa da Misericórdia – Praia de Santa Luzia. Gravura de Pieter Godfred Bertichen, 1856. Acervo: Coleção Brasiliana Itaú

As aglomerações de pessoas e o uso comum de fontes com água contaminada eram os principais responsáveis pela propagação da doença. A cidade, que então apresentava sérios problemas de saneamento, viu a parte mais pobre de seus habitantes ser acometida pelas graves diarréias e desidratações causadas pela infecção das bactérias Vibrio cholerae. Em agosto daquele ano, foi declarada a situação de epidemia na capital, que atingiu o seu pico em novembro. A doença batia recordes de mortes diárias e excedia os óbitos totais da epidemia anterior. Escravizados e libertos foram os mais atingidos entre os fluminenses. 

Dom Pedro Visitando os Coléricos. Pintura a óleo de Louis-Auguste Moreaux, c. 1863

A grande mortalidade causada pela cólera foi registrada no aumento de sepultamentos no cemitério de São Francisco Xavier, antes Campo da Misericórdia, no bairro do Caju. Até meados de 1856, a cidade viu mais de 4.800 pessoas morrerem pela cólera, segundo relatório de José Pereira Rego, médico membro da Junta de Higiene Pública e futuro Barão do Lavradio. Das vítimas contadas oficialmente, metade era de escravizados, sujeitos a péssimas condições sanitárias. 

Jornal do Commercio, 12/08/1855. Ed. 221, p5. Acervo Fundação Biblioteca Nacional – Hemeroteca.

As imposições de quarentena a navios e o aumento do financiamento para o tratamento dos doentes surtiram efeito um ano após o início da epidemia. Em julho de 1856, o grande surto de cólera arrefeceu no Rio de Janeiro. Em 1867, a doença estava de volta em toda província do Rio de Janeiro, porém com menor intensidade na capital. E só foi considerada erradicada ao final do século XIX. 

Este texto foi elaborado pela pesquisadora Helena Gomes do Projeto República (UFMG)

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