Marielle Franco
“Brasil, chegou a vez/ De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, Malês”. Foi o rosto de Marielle Franco, estampado em enormes bandeiras, que marcou o trecho final do desfile da Mangueira, escola de samba consagrada campeã do Carnaval 2019. Nas arquibancadas, ecoava o grito “Marielle, presente”, e pululavam as placas de rua com o nome da vereadora, que se tornaram febre por todo o Brasil. O enredo da verde-e-rosa buscou retratar, naquele ano, “a história que o livro apagou”: heróis, especialmente negros e índios, que se ocuparam de combater a violência e a brutal segregação do Brasil. Ao lado de personagens como Dandara, mulher de Zumbi dos Palmares, Marielle ocupou centralidade no Carnaval de 2019 como a grande heroína de nosso presente.
Negra, pobre, cria da favela, lésbica, mãe, intelectual e militante, Marielle Franco nasceu na Maré, o complexo de favelas às margens da avenida Brasil. Começou seu engajamento político durante o pré-vestibular comunitário, após perder uma amiga vítima de bala perdida. Já trabalhava desde os 11 anos, para pagar sua escola. Fez graduação em ciências sociais na PUC-Rio, com bolsa de estudos, e mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde defendeu a dissertação “UPP: a redução da favela a três letras”. Sempre conciliou os estudos com um ou mais empregos e com a atuação em defesa dos direitos humanos.
A breve carreira política de Marielle, interrompida tão precocemente, não teve, porém, nada de efêmero. Sua luta contra a violência, a opressão de pobres e negros, a corrupção e as injustiças sociais foi tão forte e eloquente, que até hoje, após sua morte, continua resistindo àqueles que tentam apagá-la.
Marielle trabalhou em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm). Coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado de Marcelo Freixo. Em 2016, foi eleita a vereadora do Rio pelo PSOL, com a quinta maior votação para o cargo.
Em 13 meses de mandato, apresentou projetos como o que defendia a criação de um horário noturno em creches municipais, para apoiar mães e pais que trabalham ou estudam à noite. Foi presidente da Comissão de Defesa da Mulher e seria relatora da comissão da Câmara Municipal que fiscalizaria a intervenção militar no Rio. Além disso, Marielle vinha denunciando a atuação das milícias em comunidades — e essa foi provavelmente a principal causa de sua execução.
Na noite de 14 de março de 2018, a vereadora foi executada com tiros na cabeça, enquanto voltava da roda de conversa Jovens Negras Movendo Estruturas. Anderson Gomes, seu motorista, também foi morto na emboscada. Não bastasse o assassinato, Marielle foi alvo de uma brutal campanha de difamações, com correntes de notícias falsas que buscavam disseminar uma imagem equivocada de sua atuação política. A placa de rua com seu nome estampado chegou a ser quebrada por dois candidatos a deputado. Em resposta ao ato bárbaro, incontáveis placas com o nome da vereadora têm se multiplicado pelo país, em ruas, casas, estabelecimentos comerciais, eventos.