Estação das barcas
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O transporte de passageiros por barcas foi o primeiro sistema de mobilidade urbana de massas do Rio de Janeiro. Introduzido em maior escala na década de 1830, na segunda metade do século XIX contabilizava-se mais de 50 viagens diárias entre Rio e Niterói. E junto com o adensamento populacional, inserido num contexto de grandes transformações urbanas pelas quais o Rio de Janeiro passou, foi construído o (hoje centenário) prédio da estação das barcas, no início do século XX.
Localizado na histórica Praça XV, a construção do edifício foi iniciada durante a gestão do prefeito Pereira Passos, em 1904, e sua inauguração se deu em 1912. A arquitetura eclética (que combina elementos de estilos arquitetônicos diversos) do prédio é um imponente exemplar de um dos estilos vigentes — ao menos dos prédios públicos e palacetes — da época. Atualmente, além da estação, o prédio abriga o Centro de Controle Operacional da concessionária CCR – que administra o transporte por barcas desde 2012 –, escritórios administrativos da empresa, lojas e áreas de serviços auxiliares.
Mas esta estação não foi a primeira a operar o transporte de passageiros pela Baía de Guanabara. A utilização da baía, inclusive, é muito anterior à invasão dos portugueses. Os tupinambás já utilizavam canoas para se locomover entre suas diferentes margens e, a partir do século XVI, os colonizadores usaram, por anos, as mesmas canoas indígenas, até que barcos e faluas – movidos por remadores escravizados – passassem a transitar por essas águas.
Já a navegação a vapor, depois de uma primeira tentativa mal sucedida em 1817, foi iniciada em 1835. No dia 14 de outubro daquele ano, o serviço da Sociedade de Navegação de Nictheroy entrou em funcionamento, com três barcas inglesas denominadas Praiagrandense, Niteroiense e Especuladora, que começaram a fazer o trajeto entre a então Corte imperial e a cidade de Niterói.
O atracadouro era na antiga Praia de Dom Manuel, localizada à direita da atual Praça XV — e, à época, um dos principais portos da cidade. Além desse, havia ainda outros pontos de embarque e desembarque dos vapores, tais como nas praias do Caju, Botafogo e São Cristóvão. Esses portos – já em atividade antes do surgimento das barcas a vapor – perderam importância e, a partir dos anos 1860, o transporte para as regiões das zonas sul e norte passou a ser feito por terra, com o surgimento dos bondes puxados a burro – que, a medida que ganhavam o público, deixavam as barcas mais restritas ao trecho Rio x Niterói.
Mas antes dos bondes, outras companhias de navegação por barcas surgiram, incorporando novas embarcações às suas frotas. Em 1862, uma gigante foi inaugurada: a Companhia Ferry, criada a partir de uma concessão do governo imperial ao empresário Clinton Van Tuyl. A Companhia Ferry, que implantou o sistema ferry (os ferry boats) na cidade – com maior capacidade de lotação e embarcações mais velozes – acabou afetando os serviços da Companhia de Navegação de Niterói e Inhomirim (uma fusão da Sociedade Nictheroy e da Companhia Inhomirim, inaugurada em 1851), que acabou encerrando suas atividades em 1865. Para a implantação do novo sistema, uma nova estação foi inaugurada, em 1862.
No início do século XX, assim como o próprio Rio de Janeiro, o sistema de transportes se transformou. Nesse sentido, o complexo arquitetônico da estação das barcas atual foi erguido de acordo com as tendências deste período, com estrutura em ferro e uma cúpula abobadada, sobre uma portada cheia de detalhes navais.
A estrutura foi revitalizada nos anos 1990 e, em 2012, a CCR passou a administrar a estação e o transporte de barcas da cidade. Atualmente, a estação da Praça XV recebe, todos os dias, milhares de passageiros com destino a Niterói, Ilha do Governador e Ilha de Paquetá.