Ataques à sede da UNE
Nos primeiros anos da década de 1960, o movimento estudantil se consolidou como um ator político relevante no Brasil. Em um momento de instabilidade institucional, a União Nacional dos Estudantes (UNE) conseguiu influenciar não só os debates a respeito da Reforma Universitária, mas também as discussões sobre os rumos do país. Sua atuação por meio do Centro Popular de Cultura (CPC) foi fundamental para que conquistasse também o apoio da intelectualidade e da classe artística.
No Rio de Janeiro, a agitação política e cultural promovida pela UNE tinha endereço fixo: a sede na praia do Flamengo, número 132. Em 1961, o CPC se instalou no terceiro andar e criou ali um grande teatro, palco de reuniões, assembleias e apresentações artísticas. A UNE se tornava, então, símbolo de uma esquerda ativa e participante.
Não por acaso, o prédio da praia do Flamengo foi um dos primeiros alvos dos grupos direitistas que apoiaram o Golpe Militar de 1964. No dia 31 de março, quando a notícia do levante militar se espalhou, dirigentes da UNE e do CPC convocaram uma reunião, a fim de decidir como proceder naquela situação. Como as notícias que chegavam eram contraditórias, parte do grupo optou por permanecer em vigília. Durante a noite, um carro passou disparando rajadas de metralhadora. Conhecido de alguns artistas, o comandante da III Zona Aérea foi acionado e enviou soldados para o local.
No dia seguinte, 1º de abril, o Golpe Militar já era um fato. Sem a proteção de setores da Aeronáutica, a sede da UNE foi alvo fácil. Grupos paramilitares invadiram o local, depredaram as salas e arremessaram móveis, papéis e livros pelas janelas. As pessoas que ficaram na salvaguarda do prédio precisaram sair às pressas, pelos fundos. Em pouco tempo, avistavam-se as chamas – coquetéis Molotov foram jogados nos três andares do edifício. A destruição da sede da UNE foi, além de física, simbólica: mostrou a intolerância com que o movimento estudantil seria tratado durante os 21 anos de Ditadura Militar.
Este texto foi elaborado pela pesquisadora Pauliane de Carvalho Braga do Projeto República (UFMG).