A defesa da cidade e a criação das aulas de fortificação

Em meados do século XVII o Rio de Janeiro ainda não era uma cidade que se poderia considerar livre de ataques de nações colonizadoras inimigas. Tanto que, em 1646, o então governador Duarte Corrêa Vasqueanes escreveu ao rei de Portugal, a fim de salientar a importância de retornar as instituições administrativas para a parte alta da cidade, além de construir muralhas para maior segurança dos moradores. Mas a vocação marítima do Rio de Janeiro fez com que o projeto não fosse adiante, e apenas as igrejas e fortalezas permaneceram nos morros, a fim de proteger a cidade contra os “inimigos do rei e da fé”.  Por volta de 1649, chegou de Portugal o engenheiro militar francês Miguel Lescolle, com a missão de resolver as questões de defesa – preocupação recorrente nos primeiros séculos da colonização. 

Nos relatórios elaborados por Lescolle, foram apontadas as necessidades de fortificar os morros do Castelo, São Bento, Santo Antônio e Conceição e entrincheirar grande parte da orla marítima. Eles foram enviados ao Conselho Ultramarino, que deu parecer favorável aos intentos do engenheiro, mas não se sabe se os projetos foram executados como previsto. Os relatórios foram transcritos por Gilberto Ferrez, em 1972, mas as sete plantas da cidade produzidas por Lescolle, infelizmente não foram encontradas nos arquivos brasileiros ou portugueses. Foi a planta de João Teixeira Albernaz, elaborada em atlas produzido em 1666, que sobreviveu. 

“Aparencia do Rio de Janeiro com todos os Baixos e Ilhas”. Atlas do Brasil elaborado por João Teixeira Albernaz por volta de 1666. Acervo Biblioteca Nacional

A partir de então, diversos projetos de defesa do Rio de Janeiro foram apresentados por engenheiros militares – os grandes responsáveis pela maioria das obras urbanas do período colonial. Em janeiro de 1699 o rei Pedro II de Portugal ordenou a criação de Aulas de Fortificação – cursos de formação para que soldados aprendessem a desenhar e erigir fortificações.

No Rio, a Aula de Fortificação se estabeleceu ainda 1699, com direção do engenheiro militar português Gregório Gomes Henriques. Em 1738 o programa foi acrescido da Aula da Artilharia, comandada pelo engenheiro José Fernandes Pinto Alpoim – oficial responsável pela construção de obras importantíssimas na cidade durante o século XVIII. 

Desenho do engenheiro José Fernandes Pinto Alpoim. Retirado do site Engenharia em Revista

Apesar de aventada desde meados do século XVII, a ideia da construção de um muro na região da orla só foi concretizada em 1713 – dois anos depois da invasão do corsário Duguay Trouin (1711) –, quando o engenheiro francês João Massé iniciou a construção de um “simples muro ao redor [da cidade]”.

Planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro com suas fortificações (1713) – João Massé. Imagem em domínio público – Wikimedia Commons

Mas o muro, que limitava a cidade a um espaço pequeno, se tornou alvo de insatisfações já nas décadas seguintes, e nem chegou a ser completamente finalizado. No final dos anos 1720, o Senado do Rio solicitou ao rei permissão para que se construíssem casas além-muros. O governador da época, Luís Vahia Monteiro (1725 e 1732), apesar de considerar a muralha de Massé inútil, proibiu que a cidade se estendesse para além dela, alegando a inutilização ainda maior da construção a partir da “‘fábrica de novos edifícios[…]’. Estes só poderiam ser construídos caso se demolisse a muralha, o que levaria à ‘total condenação das fortificações’” (BICALHO, 2013, p. 13). Vahia Monteiro ainda propôs a construção de um canal que serviria como um fosso, para a proteção da cidade.

A partir dos anos 1750, o crescimento do Rio de Janeiro em direção aos “sertões” eliminou de vez a necessidade de reconstrução ou melhoramento do muro de proteção. A criação de novas vilas e povoamentos surge como uma alternativa melhor à ocupação e proteção da cidade.

Referências:

BICALHO, Maria Fernanda. O Rio de Janeiro no século XVIII: a transferência da capital e a construção do território centro-sul da América portuguesa. URBANA: Revista Eletrônica do Centro Interdisciplinar de Estudos sobre a Cidade, Campinas, SP, v. 1, n. 1, p. 1–20, 2013. 

CASTELLIANO, Luiz. Um Breve Histórico do IME – Instituto Militar de Engenharia (Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, 1792). Instituto Militar de Engenharia: Rio de Janeiro, 2005.

CORRÊA-MARTINS, Francisco José. “Jeitinho carioca(?)”: a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e seu sistema defensivo em três momentos distintos do período colonial. Sociedade Brasileira De Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto: Rio de Janeiro, 2013.

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